Trilhas e cachoeiras em Roraima: como se aventurar com segurança
- ranioralmeida
- 16 de jul.
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Por Ananda Sales e Lucas Castro

Turistas de todo o país procuram o estado de Roraima para fazer passeios de aventura – Foto: Lucas Castro.
O turismo de aventura vem ganhando força em Roraima, e locais como Serra Grande, Serra do Tepequém e o Monte Roraima atraem turistas de dentro e fora do estado. Segundo dados do Governo de Roraima, o estado registrou um crescimento de 97% no número de turistas internacionais em 2024. Mas junto com o crescimento dessa prática, aumentam também os riscos, especialmente quando o passeio ocorre sem preparo ou acompanhamento profissional.
De acordo com o comandante da Companhia de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros de Roraima, Patrick Costa, desde 2023 a corporação já atendeu, em média, 20 ocorrências de resgate em trilhas no estado. "Nós já fizemos resgates no Monte Roraima utilizando aeronaves. Na Serra Grande a gente sempre é acionado. E no Tepequém, tanto no platô quanto na Laje Verde, diversas vezes", relata o comandante.
Apesar de as ocorrências estarem registradas dentro de uma categoria ampla de chamados, o número de acionamentos demonstra a necessidade de cautela. "Muita gente faz o passeio uma vez e já se sente especialista. Acha que não precisa de guia, e acaba se colocando em risco", explica.

Comandante Patrick Costa, do Corpo de Bombeiros, fala sobre segurança em trilhas em Roraima – Foto: Ananda Sales]
Entre os principais perigos apontados pelos Bombeiros estão as chamadas "cabeças d'água", enxurradas repentinas comuns em regiões de cachoeira, especialmente durante o período chuvoso. "Existem indícios: nuvens carregadas, mudança na coloração da água, que fica mais barrenta. Quando isso acontece, é preciso buscar um ponto elevado e seguro", orienta o comandante.
Outro ponto de atenção é o local turístico conhecido como "Mão de Deus", na Serra do Tepequém. "Existe um laudo técnico informando o risco daquela pedra desabar. A sinalização diz que no máximo cinco pessoas devem permanecer ali, mas já flagramos grupos com mais de 20 pessoas no local, o que é extremamente perigoso e aumenta consideravelmente o risco de acidentes", alerta.
Estrutura limitada e a importância de seguir as orientações
Atualmente, o Corpo de Bombeiros conta apenas com uma unidade de resgate em Boa Vista. Segundo o comandante, o deslocamento para as áreas de difícil acesso pode levar de duas a seis horas, a depender das condições da estrada. "Nossa equipe parte da capital. Já levamos até seis horas para chegar em casos como no município do Uiramutã. Já em casos na Laje Verde, conseguimos chegar em cerca de duas horas, quando as condições da estrada são favoráveis’’ afirma.
O comandante reforça que, em caso de emergência, manter a calma é essencial. "O que mais acontece é o pânico, e isso agrava a situação. Por isso, é fundamental seguir as orientações dos guias e aguardar o resgate em segurança", destaca.
Em caso de emergências em trilhas ou regiões isoladas, o Corpo de Bombeiros pode ser acionado pelo telefone 193, disponível 24 horas em todo o estado.
Segurança começa antes da trilha
A servidora pública, Sirlene Tenente, costuma fazer trilhas em Roraima ao lado da família e reforça a importância do planejamento. Recentemente, ela visitou a Serra Grande com as filhas e contou que só faz os passeios acompanhada de profissionais.
"O trajeto foi planejado com antecedência. O guia responsável tem mais de 10 anos de experiência e conhece bem o território. Isso faz toda a diferença", afirma.

Sirlene e as filhas durante passeio na Serra Grande – Foto: Arquivo pessoal
Sirlene também destaca os perigos de subestimar o trajeto. "Tem muita gente que vai por empolgação, vê fotos na internet, e acha que pode fazer sem preparo. Já presenciei pessoas passando mal na trilha, com pressão alta ou falta de preparo físico, tendo que voltar antes do final", relata.
Ela lembra ainda que o clima pode tornar o percurso mais arriscado, principalmente no período chuvoso. "As cachoeiras ficam cheias, o risco aumenta, e muita gente não respeita o próprio limite físico. Já tivemos casos de pessoas que passaram mal no Tepequém, inclusive um rapaz que teve parada cardíaca", diz.
O planejamento adequado e a escolha de profissionais capacitados são as principais garantias de segurança para quem deseja explorar trilhas e pontos turísticos em áreas de natureza. Infelizmente, casos trágicos reforçam a importância desses cuidados.
Casos recentes, como o da brasileira Juliana Marins, que faleceu durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, servem de alerta. Em junho de 2025, Juliana foi deixada sozinha por mais de uma hora após apresentar sinais de cansaço durante a subida. Ela caiu em um terreno íngreme e escorregadio e foi encontrada sem vida quatro dias depois. A situação evidenciou falhas no acompanhamento e na condução do passeio, o que reforça a necessidade de sempre contar com guias responsáveis e capacitados.
Para Sirlene, o caso serve de alerta. "Antes de qualquer passeio, é preciso conhecer o percurso, avaliar se está em condições físicas adequadas e buscar profissionais responsáveis, que saibam agir em caso de emergência. É a única forma de garantir uma experiência segura e tranquila", finaliza.
Orientação profissional é fundamental para evitar acidentes nas trilhas
O guia de turismo Fredson Figueiredo Guedes, conhecido como Tarzan, atua na área há mais de 25 anos. Ele começou a fazer trilhas como atividade de lazer e, com o tempo, decidiu se profissionalizar. Fez cursos e hoje trabalha exclusivamente com turismo.

Tarzan durante uma expedição à Serra Grande. (Foto: Arquivo pessoal.
Um dos roteiros oferecidos por ele é na Serra Grande, onde conduz visitantes até as cachoeiras Véu de Noiva e Excalibur. Tarzan alerta para a importância de contratar guias certificados em passeios de aventura.
"O guia precisa ser credenciado e ter experiência nos locais que percorre. Em áreas de natureza, é comum precisar interromper a trilha por mudanças repentinas no clima", enfatiza Fredson.
Entre as orientações, ele destaca o uso de calçados adequados, alimentação antes da atividade e conhecimento das próprias condições físicas.
"Muitas pessoas iniciam a trilha sem se alimentar corretamente e passam mal. Também há casos de torções e dificuldades em concluir o percurso por conta de lesões pré-existentes. O conhecimento em primeiros socorros ajuda a lidar com essas situações", explica



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