Apesar de ser exigido por Lei, tradução para Libras em eventos ainda é escassa em Roraima
- ranioralmeida
- 15 de ago.
- 3 min de leitura
Por: Juliana Mourão
Você se lembra qual foi a última vez que viu a tradução simultânea para Libras em um evento? Para uma parte da comunidade surda, esta ainda é uma barreira que precisa ser vencida para que o direito ao lazer e a cultura seja plenamente respeitado.
A Língua Brasileira de Sinais (Libras), reconhecida desde 2002 como um idioma oficial no Brasil, é uma das formas de comunicação para surdos não-oralizados, e é diferente do português que pessoas não surdas usam, uma vez que possui suas próprias regras gramaticais. Para a estudante Natália Magalhães, é difícil compreender atrações como peças e filmes, uma vez que ela se comunica por Libras com mais fluidez e facilidade.
“Infelizmente, todos que fui não tinham intérprete. Geralmente era legenda e entendia muito pouco, porque não é minha língua”, contou Natália, que concedeu a entrevista por meio de uma intérprete de Libras.
Segundo levantamento apontado pelo Jornal da USP e realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 5% da população no Brasil apresenta alguma deficiência auditiva. Ainda segundo o órgão de pesquisas, destes, pouco mais de 22% se comunicam por Libras.
O elo entre os dois mundos: a função do intérprete.
Desde 2010, a profissão de intérprete e tradutor de Libras é oficialmente reconhecida. Na vida de Francynara Sousa, a Libras surgiu na adolescência por meio de uma iniciativa em uma igreja evangélica, onde participava do grupo musical Mãos da Esperança. “Eles me incentivaram a fazer curso”, relembra. Ela iniciou a formação em 2012, continuou em 2013, mas precisou interromper por questões de saúde. “Em 2018, entrei na universidade para fazer o curso de bacharelado em Letras-Libras”, acrescenta.
Nesse último mês, Francynara participou de um momento histórico: pela primeira vez, o tradicional arraial São João do Anauá, realizado em Boa Vista, teve shows musicais simultaneamente traduzidos para Libras. Ela conta como foi a experiência, com orgulho: “Claro que eu tive muita dificuldade, porque a profissão exige essa preparação, principalmente quando a gente interpreta músicas. Temos que estudar antes, nos preparar bem para poder fazer um bom trabalho”.
Formação e desafios na vida do intérprete
A formação de um profissional da área pode ser feita dentro da Universidade Federal de Roraima (UFRR). A coordenadora do curso de Letras Libras, Thaysa Barbosa, fala sobre como é o processo de ingressar na formação.
“É um curso de Bacharelado que dura quatro anos. A grade é dividida entre disciplinas que vão promover a fluência na Libras ensinando técnicas de interpretação e tradução e também sobre a gramática da língua de sinais. Além disso, estudamos também disciplinas acerca da Linguística das Línguas em geral e acerca do Português, já que o Intérprete precisa de competências linguísticas, tradutórias e interpretativas nas duas línguas”, explica Thaysa.
A professora enfatiza também que, apesar de ser garantido pela Lei 10.098/2000, ainda há muito a se desenvolver quando se trata de tradução para Libras no entretenimento em Roraima. A estreia da tradução no arraial é de extrema importância, mas existe mais a ser feito.
“Podemos considerar como um primeiro passo, mas ainda precisamos planejar ações permanentes de acessibilidade para a comunidade surda para atendimento em todos os setores, além de ações que valorizem o profissional com melhores condições de trabalho e de remuneração”, destaca.
Thaysa finaliza com um dado alarmante: Roraima é um dos estados que desrespeita a sugestão de honorários feita pela FEBRAPILS (Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais), o que torna o trabalho além de escasso, desvalorizado. “Isso precisa mudar com urgência”.




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