Sob a Maca: A Realidade das Cirurgias Bariátricas em Boa Vista
- ranioralmeida
- 24 de jun.
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Atualizado: 30 de jun.
Em Roraima, o procedimento ficou suspenso pelo sistema de saúde pública de 2017 a 2022.
Por Juliana Soares e Yasmin Tavares

Reprodução: Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)
O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou em maio deste ano novas normas em relação à realização de cirurgias bariátricas, ampliando o acesso ao procedimento. Entre as mudanças trazidas com essa atualização estão a não restrição à idade nem definição de tempo mínimo ou máximo de convivência com a doença, além do reconhecimento da possibilidade de cirurgias em pacientes a partir dos 14 anos nos casos de obesidade grave.
Essas mudanças impactam diretamente o público habilitado para o processo, modificando-se não somente a idade de quem pode realizar a bariátrica, como também quais são as técnicas recomendadas para cada tipo de Índice de Massa Corporal (IMC) e como determinadas comorbidades decorrentes da obesidade influenciam na cirurgia.
Afinal, o que é a bariátrica?
A cirurgia bariátrica ou Cirurgia de Redução do Estômago é entendida como um meio eficaz de intervir na progressão da obesidade, seja ela em fase mórbida ou não, desde que ela esteja associada a doenças advindas desse problema de saúde inicial, que colocam em risco o bem-estar do indivíduo. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), a obesidade é uma doença cada vez mais recorrente, e a principal questão para a medicina são justamente as enfermidades associadas a essa condição.
Os principais fatores, além das comorbidades, estão relacionados à idade do paciente, o Índice de Massa Corporal (IMC) e o período em que a doença está se desenvolvendo na pessoa. Com as mudanças estabelecidas pelo CFM, esses critérios sofreram alterações, para melhorar a eficácia do procedimento e combater a crescente na população que apresente quadros clínicos de risco:

Antes da cirurgia o paciente passa por uma série de profissionais que irão avaliar o seu caso clínico. Dentre esses especialistas estão o nutricionista, o psicólogo e o cirurgião qualificado para tal.

O Amparo psicológico
A psicóloga Gisellen Eduarda atende pacientes que passam pelo processo de emagrecimento e explica um pouco sobre a importância desse acompanhamento.
“O profissional entra para fazer intermediação, para que o paciente se sinta convicto da escolha, para que pense se é o que ele quer. Principalmente porque geralmente quem realiza o procedimento está em uma situação de comorbidade”, informa.
A profissional explica que nos momentos que antecedem a cirurgia o paciente geralmente se vê com dúvidas. Assim como o paciente no pós-cirúrgico precisa ser acompanhado por médico, nutricionistas; esse suporte mental também é importante para que haja essa mudança real.

Psicóloga Gisellen Eduarda. Imagens: arquivo pessoal
Ela exemplifica que em muitos casos após uma cirurgia desse tipo, um paciente sem o devido cuidado pode acabar adquirindo transtornos de imagens, ou alimentares. A mudança física pode ocorrer, mas se não cria uma bola relação com a autoestima e com a comida, tudo pode voltar ao início.
Distantes, mas ainda brasileiros: O cenário nacional e boavistense da coisa
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o Brasil é um dos países com a maior taxa de obesidade no mundo, com registro de 9 milhões de pessoas com a condição até o ano de 2024, superando assim o número dos anos anteriores. Somente entre 2020 e 2024, foram realizados 291 mil procedimentos do tipo, o que representa um aumento de 42,4% no número de cirurgias bariátricas nos últimos quatro anos, porém houve uma queda de 18% na quantidade de pessoas com obesidade mórbida beneficiadas pela operação de 2023 para 2024. Uma pesquisa elaborada pela organização revela que as mudanças nos hábitos alimentares, aumento do sedentarismo e fatores econômicos e sociais estão diretamente ligados ao crescimento dessa condição no país.
Diante desses dados, há um destaque na proporção de intervenções efetuadas em ambientes de assistência pública e em planos particulares. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), além da queda no número de ocorrências, a quantidade de indivíduos que recorrem ao sistema privado de saúde continua superior aos que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS):

Em Roraima, as cirurgias bariátricas ficaram paralisadas a partir de 2017 no Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento (HGR), em razão da falta de estrutura para a realização do procedimento, sendo retomadas em outubro de 2022, após investimentos do Governo do Estado.
Desde então, o cenário da intervenção cirúrgica em Roraima tem se modificado, se ampliando principalmente por meio de consultórios particulares e do Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento (HGR). A Secretaria Estadual de Saúde (SESAU) afirma que 27 pessoas estão na lista da cirurgia bariátrica, sendo que, no ano passado, 56 desses procedimentos foram executados no HGR.
Apesar das ampliações registradas, parte dos pacientes que realiza o procedimento acaba recorrendo ao sistema particular, e mais preocupante ainda, alguns recorrem à clandestinidade por acesso, valor e uma possível rapidez. Essas situações acendem o alerta de preocupação, já que a bariátrica é uma cirurgia complexa não somente em termos médicos, mas por diversos fatores que envolvem sua realização. O acompanhamento médico especializado, de nutrólogos, endócrinos e de profissionais da saúde mental são fatores de grande importância em todo o processo, seja antes, durante ou depois da realização.
Exemplo de mudança
A servidora Vivian Silvano sempre teve pré-disposição ao sobrepeso e vivia uma luta constante com a balança. A chegada da pandemia de Covid-19 fez com que esse problema se agravasse ainda mais. Vivian chegou a ter pré-diabétes, tinha dificuldades de sono e ficava cansada com qualquer esforço realizado.
Após encontrar um médico de. confiança, a servidora iniciou sua saga com a bariátrica, e recebeu claras orientações de que o processo não seria curto ou fácil. Contou com acompanhamento de diversos profissionais como nutricionista, endocrinologista, psicólogo, além do médico que a acompanhou e operou. Antes mesmo da realização efetiva do procedimento, afirma ter passado por mudanças alimentares, uma reeducação.
Vivian afirma que não se arrepende do processo:
"Tenho mais disposição para trabalhar, durmo muito melhor, minhas taxas são excelentes, tenho uma vida saudável. A bariátrica para mim foi muito importante para tudo, tanto minha saúde física como mental. Foi fator determinante para que eu hoje me sinta uma pessoa mais realizada, mais feliz e com saúde”, deduz.

Vivian antes da realização da cirurgia bariátrica. Imagem: arquivo pessoal.

Vivian cumprindo a rotina de exercícios após a cirurgia bariátrica. Imagem: arquivo pessoal.
O acompanhamento com os profissionais continuou após o procedimento, e ela reafirma a importância desses fatores enfatizando no que acaba negligenciado por muitos: o acompanhamento psicológico nas mudanças de hábitos pós cirurgia.



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