POLARIZAÇÃO NAS REDES - Como é o comportamento dos usuários nas plataformas digitais?
- Joao Gabriel Grana
- 24 de jun
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de jul
Cenário atual é marcado por conflitos acirrados, desinformação e extremos.
Por Lucas Aires e Wesley Vieira

A polarização política encontrou nas redes digitais um espaço onde o debate e a opinião se transformam em ataques constantes. Entre memes, discursos inflamados e vídeos virais, a polarização atingiu outro patamar, influenciando eleições e mobilizações nas ruas. Enquanto alguns celebram a democratização do debate, outros alertam para os riscos da desinformação e do extremismo.
A jornalista e professora Cyneida Correia foi vítima de um desses ciberataques em 2022, ao comentar sobre as manifestações que ocorriam no país após as eleições presidenciais vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
“Em poucas horas, meu comentário — que nem era agressivo, apenas reflexivo — foi parar nas redes de um ex-candidato a deputado federal. A partir daí, fui bombardeada por ameaças, xingamentos, comentários machistas, xenofóbicos e, claro, ataques à minha profissão. Tudo isso por expressar uma opinião baseada na Constituição”, relata.

Cyneida responsabiliza as redes por facilitar a circulação desse tipo de conteúdo, afirmando que elas favorecem a disseminação de desinformações e discursos extremistas.
“O barulho mais alto hoje não vem da crítica inteligente, mas da raiva. O algoritmo entrega aquilo que mais engaja, e, infelizmente, o ódio engaja. Ele provoca curtidas, comentários, reportagens — e com isso, vira uma avalanche.”
A jornalista alerta que muitos influenciadores e formadores de opinião promovem essas práticas de forma consciente, utilizando frases manipuladas e prints tirados de contexto. No entanto, ela também destaca a presença de vozes que buscam um debate mais construtivo e menos agressivo.
“Vejo que existe um outro lado. Há influenciadores conscientes, jornalistas, professores, criadores de conteúdo que lutam para manter o debate no campo das ideias — e não no campo do linchamento virtual. Eles existem, e precisam ser ouvidos e fortalecidos.”
Segundo pesquisa do Datafolha, 53% dos eleitores com contas em redes sociais mudaram de comportamento por conta de divergência política em 2022.

Uma pesquisa do DataSenado, mostra o WhatsApp como a principal fonte de informação dos entrevistados, com 79%.

Este outro gráfico do DataSenado mostra o percentual dos entrevistados sobre a interferência das informações nas redes sociais na escolha do voto. O X (antigo Twitter) interferiu 90%.

A pesquisa do Datafolha ouviu 6.800 pessoas, entre 27 e 29 de setembro de 2022, em 332 municípios. Na pesquisa do DataSenado, foram entrevistadas 2,4 mil pessoas em todo Brasil, por meio de ligações para telefones fixos e móveis, no período de 17 a 31 de outubro de 2019.
O consumo de informação nas plataformas é rápido e superficial, o que abre espaço para opiniões sem qualquer base confiável. O sociólogo e cientista político Paulo Racoski explica como essa dinâmica afeta a forma com que as pessoas buscam as informações. Ouça o que o sociólogo diz:
Racoski aponta que o uso das redes digitais tem afetado o comportamento da sociedade. Na avaliação do sociólogo, o excesso de conteúdos repetitivos e pouco aprofundados colabora para um “adoecimento coletivo”.
O professor também enfatiza que o panorama político nas redes digitais não apresenta expectativa de melhora, identificando falhas na forma como as pessoas se posicionam nestes ambientes.
“Não há uma perspectiva de mudança no que tange ao campo político. As pessoas agem como se a vida fosse um Fla-Flu ou um Grenal, e a maioria delas não têm domínio nenhum sobre o que estão opinando”, finaliza.
O acadêmico de Direito e gestor político, Yano Rodrigues, disse que estamos vivemos numa revolução tecnológica e acredita que os lados opostos se perdem no processo de diferenciar um dado (fato) e especulação.
“As pessoas utilizam as redes sociais para tendenciar aquilo que elas querem. Na polarização política, os lulistas culpam os bolsonaristas e vice-versa, jogando a responsabilidade no governo anterior. Se analisarmos direito, alguns problemas atuais relatados pelos bolsonaristas e lulistas, começaram no governo Temer. É fácil dar opinião sem dados”, afirma.

Sobre a opinião de influenciadores na internet, Yano comenta que elas podem ser problemáticas. “As redes sociais partem do princípio que chamamos de ‘educomunicação’. Nós comunicamos e educamos ao mesmo tempo. É uma forma de atingir a grande massa. Quando um influenciador favorito de alguém emite uma opinião, pode ser que ela não esteja pautada em nada verídico, mas os seguidores acreditam que aquilo é uma verdade”.
Candidato a deputado federal por Roraima em 2022 e vice-prefeito de Boa Vista em 2024, Yano explicou sua entrada na vida política. “Comecei a me interessar nessa área durante a reforma da Previdência. Vi cartazes com ‘Fora Bolsonaro’ e queria entender o papel da universidade nisso. Tive que me educar politicamente, pois eu seguia pessoas que explicavam de forma didática e vi a necessidade de trazer isso para minha bolha”.



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