Os caminhos do empreendedorismo feminino em Roraima
- Joao Gabriel Grana
- 18 de ago.
- 3 min de leitura
Desigualdade de renda, sobrecarga e racismo ainda são entraves para mulheres que empreendem no estado.
Por: Mell Maximiana e Ana Rízia

Em Boa Vista, o empreendedorismo tem se consolidado como uma alternativa encontrada por muitas mulheres para garantir renda e conquistar autonomia. No entanto, esse caminho costuma ser marcado por inúmeros obstáculos, como a dificuldade de acesso a crédito, as responsabilidades familiares, o preconceito e a ausência de redes de apoio.
Segundo o Panorama do Empreendedorismo Feminino no Brasil (2024), em regiões como o Norte, essas dificuldades são intensificadas por desigualdades regionais, raciais e educacionais.
A desigualdade no tempo dedicado aos negócios também é um fator relevante: empreendedoras gastam, em média, 17% menos tempo que os homens em seus empreendimentos, geralmente devido à sobrecarga com tarefas domésticas e familiares. Isso se agrava ao considerar que 49% das mulheres empreendedoras no Brasil também são donas de casa, o que torna ainda mais desafiador o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Mulheres que acumulam múltiplas atividades, como estudo, trabalho e cuidados com a casa e a família, enfrentam grandes desafios para manter um empreendimento ativo. Isso exige planejamento cuidadoso e esforço constante para lidar com as demandas diárias.
É o caso de Raíssa Victória, estudante universitária que administra um ateliê de ecobags artesanais. Um dos principais obstáculos que enfrenta é conciliar a rotina intensa de estudos com o tempo necessário para a produção das peças.

Para manter o negócio funcionando, Raíssa contou com o apoio fundamental de familiares e amigos, que a ajudaram a seguir em frente e equilibrar suas responsabilidades. Apesar da rede de apoio que Raíssa recebe, a realidade de muitas outras mulheres é diferente.
Kamyla Brasil, gestora do programa Sebrae Delas em Roraima, destaca que o empreendedorismo feminino ainda enfrenta entraves estruturais, como o difícil acesso a crédito e a escassez de apoio especializado. Ela ressalta que, apesar da diversidade de perfis entre as empreendedoras, muitas compartilham obstáculos comuns, como a sobrecarga de funções e a falta de redes de apoio.

A experiência de Dila Duarte, artesã e empreendedora cultural, revela uma perspectiva distinta, centrada na valorização das raízes afro-indígenas por meio da produção de acessórios artesanais. Para ela, empreender é também uma forma de educar e fortalecer sua identidade cultural.
“Nosso objetivo também é educativo e cultural, porque buscamos contribuir diretamente para combater o racismo e valorizar, de fato, a nossa cultura e identidade. Queremos elevar a educação, a arte e a nossa identidade em cada produto que é vendido, transmitindo a nossa história”, explica ela.
Apesar da relevância cultural de seu trabalho, ela destaca a falta de reconhecimento. Segundo relata, expressões culturais como a sua ainda são vistas como menores, o que dificulta sua inserção no mercado.
Dila fala sobre valorização da cultura
Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 2024 revelou que a desigualdade de renda é uma das principais barreiras: mulheres ganham, em média, 24,4% menos que os homens. Esse abismo é ainda maior para empreendedoras negras, marcando uma renda 47,5% menor que a das mulheres brancas e 60,8% menor que a dos homens brancos.
Mesmo diante da desvalorização e do preconceito, Dila segue motivada pela convicção de que seu trabalho é essencial para manter viva a memória e a força de sua cultura. Ela acredita que, ao persistir, está plantando sementes de reconhecimento para as próximas gerações.
O cenário do empreendedorismo feminino em Boa Vista mostra que o desafio de empreender vai muito além da gestão de um negócio. Para muitas mulheres, manter um empreendimento ativo significa conciliar múltiplas jornadas, enfrentar preconceitos e a desvalorização de suas práticas, além de lidar com um sistema que oferece poucos recursos voltados às suas realidades específicas.




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