Futebol profissional de Roraima termina em julho e jogadores buscam outros estados para competir
- ranioralmeida
- 4 de ago.
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Por: Ananda Sales e Lucas Castro

O futebol profissional em Roraima segue um padrão recorrente nos últimos anos, com competições concentradas entre fevereiro e julho. Após esse período, clubes encerram seus calendários, e jogadores e treinadores precisam buscar alternativas em outros centros ou em torneios amadores para seguir em atividade.
Em 2025, o cenário se repetiu. O Campeonato Roraimense foi disputado entre fevereiro e abril com oito clubes na disputa, e apenas o Grêmio Atlético Sampaio (GAS) estendeu sua participação no cenário nacional até julho, quando foi eliminado ainda na primeira fase da Série D do Campeonato Brasileiro.

Campeonato curto e poucas vagas no cenário nacional
O Campeonato Roraimense de 2025 contou com oito participantes: São Raimundo, GAS, Baré, Náutico-RR, Atlético Roraima, Monte Roraima, Progresso e Rio Negro. Foram disputadas 31 partidas em menos de dois meses, todas realizadas no estádio Canarinho, em Boa Vista.
Após o fim da competição estadual, apenas São Raimundo e GAS disputaram torneios nacionais, como a Copa Verde e a Copa do Brasil. Entre eles, somente o Sampaio teve calendário mais estendido, encerrando sua participação neste mês de julho, com 15 pontos somados em 14 jogos na Série D. Com a eliminação do clube, o futebol profissional do estado ficou sem jogos oficiais no segundo semestre.
Desafios da temporada
Chiquinho Viana, técnico com 11 títulos estaduais no currículo, iniciou o ano à frente do São Raimundo. Após a eliminação no estadual justamente para o Sampaio, ficou sem clube até receber, em maio, o convite para comandar o adversário que o eliminou.

"A gente chegou e pegou uma terra sem lei, estava muito devastado, tivemos que reabilitar psicologicamente todos os jogadores. Tivemos dificuldade na parte física, alinhamos isso agora, no fim da nossa participação na competição. Eu quebrei uma barreira minha, eu era muito cobrado, pois diziam que eu só era treinador no São Raimundo, e eu saí e conseguimos fazer uma campanha muito boa", disse Chiquinho.
Pela primeira vez, Viana defendeu outra equipe no futebol local. Sob seu comando, o GAS disputou dez jogos na Série D, venceu quatro, perdeu quatro e empatou dois.
"Já estou alinhando contratações, eu quero fazer a minha licença pro, tenho que estudar, a situação financeira é muito pesada, mas eu tenho que buscar isso, eu tenho que estar evoluindo sempre. Porque nós de Roraima, a gente é julgado de uma forma diferente, a gente tem que se dedicar mais, pois senão vai chegar uma hora, que aqui no estado vão trabalhar somente profissionais de fora, como por exemplo este ano, no estadual só havia eu e o Jonas Manu como técnicos locais. Então, temos que estar preparados para fazer o melhor sempre", completou.
Chiquinho retorna ao São Raimundo para planejar a temporada de 2026.
Jogadores ficam sem contrato e procuram alternativas no segundo semestre
O meia Ygor Vasconcelos, natural de Roraima, disputou a temporada pelos dois principais clubes do estado. Ele atuou em 24 partidas e marcou três gols. Com o fim do calendário, o jogador ficou sem vínculo profissional.

"Eu vou descansar um pouco e para o segundo semestre eu vou ver o que vai acontecer, não vou parar, eu vou continuar treinando neste resto de ano e jogar os campeonatos amadores", ressaltou.
Outro destaque da temporada do futebol roraimense, o meia amazonense Railson Queiroz, de 33 anos, disputou 23 jogos e marcou seis gols pelo GAS, clube que também defendeu em 2019. Railson revelou que recebeu sondagens ainda durante a Série D para seguir trabalhando no segundo semestre do ano.

"Quando eu vi pra cá, eu disse que vinha pra fazer história, e deu certo, fui campeão roraimense. Infelizmente no brasileiro não conseguimos o nosso objetivo, ficamos pelo caminho. Eu fico feliz pela minha passagem por aqui. Na penúltima rodada da Série D eu tive uma sondagem de três clubes que estão classificados para a próxima fase da competição, então, provavelmente estarei em outro clube na sequência do brasileirão", declarou.
Apesar do interesse de outros clubes, ele afirma que pretende retornar ao futebol roraimense no ano que vem.
"A gente vai conversar para o ano que vem, mas praticamente está tudo certo. Eu quero voltar para Roraima no ano que vem, quero continuar fazendo história pelo GAS".
A realidade local reflete o desafio enfrentado por vários clubes da Região Norte. Em estados como Acre, Amapá e Rondônia, os campeonatos também são realizados entre fevereiro e maio, sem continuidade no segundo semestre. O resultado é um número significativo de atletas e comissões técnicas inativas por mais de seis meses por ano.
Segundo dados da própria CBF, o Brasil registrou 850 clubes profissionais em atividade em 2022. Desses, apenas 124 (14,5%) participaram de alguma das quatro divisões do Campeonato Brasileiro. Ou seja, 85,5% dos clubes profissionais ficaram fora das competições nacionais, restritos a campeonatos estaduais de curta duração.
Entre as propostas discutidas por dirigentes estão a criação de novas divisões nacionais (como uma eventual Série E), o fortalecimento da Copa Verde e a criação de ligas regionais que possam oferecer calendário no segundo semestre para clubes fora das Séries A-D. Outra sugestão é estender o estadual ao longo do ano, distribuindo fases em mais meses.



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