Exaustos e ansiosos: o impacto da rotina universitária na saúde mental dos alunos da UFRR
- ranioralmeida
- 24 de jun.
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Por: Ananda Sales e Lucas Castro

Estudantes universitários têm apresentado cada vez mais quadro de Burnout Acadêmico. (Foto: Ananda Sales).
Com rotinas intensas e pressões constantes, muitos universitários enfrentam o esgotamento físico e emocional. Especialistas apontam para a falta de suporte institucional e a necessidade urgente de cuidados com a saúde mental no ambiente acadêmico.
Por trás das fotos sorridentes nas colações de grau e nas redes sociais, existe uma realidade cada vez mais comum e preocupante, a exaustão física, emocional e mental que atinge muitos jovens universitários. A pressão por resultados acadêmicos, aliados a rotinas de estudo intensas, estágios, responsabilidades familiares e cobranças sociais, têm levado cada vez mais estudantes a enfrentar quadros de burnout.
Embora o termo "burnout" tenha sido inicialmente associado ao mercado de trabalho, ele tem se tornado cada vez mais frequente no ambiente universitário. Essa síndrome, caracterizada por estresse intenso, ansiedade, cansaço físico e mental, tem afetado não apenas os estudantes, mas também os professores, que lidam com uma sobrecarga de responsabilidades.
No cenário universitário, as longas horas de estudo, prazos apertados e a constante pressão para alcançar a excelência são fatores que contribuem significativamente para o burnout. Os sintomas mais comuns incluem insônia, desmotivação, crises de ansiedade, cansaço extremo e, em casos mais graves, crises de pânico. O ambiente acadêmico, marcado pela busca incessante por resultados, tem se mostrado um terreno fértil para esse esgotamento emocional.
Um estudo publicado na Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação revela que o burnout acadêmico está diretamente relacionado à queda na qualidade de vida dos universitários. A pressão por desempenho e a falta de tempo para lazer e descanso estão entre os principais fatores que agravam esse quadro.
Maria Eduarda Nóbrega, formada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Roraima (UERR) e atualmente cursando pós-graduação na Universidade Federal de Roraima (UFRR), relata como a rotina intensa da graduação, somada a responsabilidades familiares, desencadeou episódios de ansiedade. "Eu me sentia muito pressionada, principalmente durante o TCC, quando cuidava da minha sobrinha e precisava conciliar as disciplinas. Em 2021, tive minha primeira crise de ansiedade e cheguei a ir ao hospital achando que estava infartando", lembra.

Estudante Maria Eduarda Nóbrega relata ter sofrido com episódios de ansiedade no processo de finalização do Trabalho de Conclusão de Curso. (Foto: Ananda Sales).
Ela destaca ainda a falta de suporte institucional para lidar com as dificuldades emocionais que surgem ao longo da trajetória acadêmica. "As universidades ainda têm muito a melhorar no apoio psicológico aos estudantes. O tratamento foi essencial para minha recuperação, mas o suporte institucional é, infelizmente, ainda muito limitado", comenta.
Outro relato é o de Luan Correia, jornalista que enfrentou sérios problemas de saúde mental enquanto concluía seu curso na Universidade Federal de Roraima. "Demorei mais do que o esperado para concluir meu curso. Quando voltei à universidade em 2022, passei a enfrentar ansiedade. Nunca havia passado por isso antes e foi muito difícil. Tive que procurar ajuda psicológica e até psiquiátrica, além de tomar remédios para amenizar os sintomas", conta Luan.
Diretor de Comunicação do Ministério Público de Contas, Luan Correia, detalha pressão sofrida para concluir o curso de Jornalismo. (Vídeo: Lucas Castro).
A professora Sandra Gomes, do curso de Jornalismo da UFRR, analisa que a sociedade atual, com seu foco em alta performance e autocobrança, agrava ainda mais essa situação. "O ambiente universitário é um reflexo da sociedade, onde a competição e a exigência por excelência são constantes. A pressão por resultados torna-se uma constante, tanto para os alunos quanto para os professores", afirma.

Professora Sandra Gomes enfatiza que a rotina do ambiente universitário é desafiador. (Foto: Lucas Castro).
Esgotamento no corpo docente
O burnout não atinge apenas os estudantes. Os professores também enfrentam condições de trabalho exaustivas, lidando com sobrecarga de atividades acadêmicas e falta de apoio. "A rotina exaustiva dos professores, com ensino, pesquisa e extensão, gera cansaço e, muitas vezes, perda da motivação", alerta o psicólogo Wagner Costa.
Psicólogo Wagner Costa ressalta do ponto de vista profissional quais as características do Burnout Acadêmico. (Vídeo: Arquivo Pessoal).
Embora algumas universidades comecem a discutir a saúde emocional dos estudantes com mais atenção, ainda há uma lacuna no suporte psicológico disponível. A falta de recursos para atender toda a demanda de estudantes, além do estigma associado à busca por ajuda, são fatores que agravam o problema.
Sandra Gomes também alerta para o fato de que os docentes enfrentam uma jornada cansativa, não apenas em sala de aula, mas também com atividades de pesquisa e extensão, muitas vezes sem o devido reconhecimento. "A falta de investimentos e a sobrecarga de trabalho não favorecem o equilíbrio necessário para a saúde mental de professores e alunos", afirma.
Divisão de Acompanhamento Social e Psicopedagógico da UFRR oferece suporte para estudantes
Desde 2019, a Divisão de Acompanhamento Social e Psicopedagógico (DASP) da Universidade Federal de Roraima (UFRR) atua como um espaço de acolhimento e suporte para os estudantes dos campi Paricarana, Cauamé e Murupu. Com atendimento das 07h às 19h, o setor oferece serviços de Psicologia, Serviço Social e Pedagogia com foco na permanência e na qualidade de vida acadêmica dos alunos.
O atendimento é estruturado a partir de uma avaliação interdisciplinar que considera o desempenho escolar, situação socioeconômica e o bem-estar emocional do estudante. “A gente realiza um acompanhamento que começa na avaliação socioeconômica, com entrevistas sociais que identificam questões como ansiedade, dificuldades acadêmicas ou outras demandas que o aluno apresenta”, explica a assistente social Camila Mattos.
Segundo ela, o atendimento pode ser espontâneo, e os estudantes podem procurar a divisão por WhatsApp, e-mail ou presencialmente. “Temos horários flexíveis para que o acompanhamento não prejudique a rotina acadêmica.” complementa.

Universidade Federal de Roraima possui uma divisão voltada para atendimentos psicológicos destinados aos acadêmicos. (Foto: Ananda Sales).
No serviço de Psicologia, as sessões duram cerca de 40 a 50 minutos, e três profissionais se revezam para atender a demanda diária, garantindo suporte para dificuldades emocionais que interfiram no rendimento escolar. Já o Serviço Social realiza entrevistas agendadas, especialmente em períodos específicos, para a avaliação socioeconômica dos alunos, encaminhando-os para programas de assistência estudantil e políticas públicas quando necessário.
A pedagogia, por sua vez, oferece apoio direcionado para estudantes com dificuldades acadêmicas, como elaboração de trabalhos, leitura, escrita e apresentação de seminários. “O aluno traz a demanda e nós trabalhamos de forma personalizada, aplicando técnicas de estudo e incentivando hábitos que fortalecem a motivação, como alimentação adequada e exercícios físicos”, explica a pedagoga Brenda Fraxe. Ela destaca ainda que alguns atendimentos são obrigatórios para garantir a manutenção de benefícios acadêmicos, como bolsas de estudo, quando o aluno apresenta comprovantes de situações especiais, como doenças ou cirurgias.
Apesar de ser um serviço fundamental para o sucesso acadêmico, a pedagoga observa que muitos estudantes ainda desconhecem essa modalidade de acompanhamento. “É comum que alunos se surpreendam ao saber que temos esse atendimento pedagógico. Isso revela a necessidade de ampliar a divulgação para que mais pessoas possam acessar esse suporte.”
A DASP está instalada no antigo prédio da Saúde, e os interessados podem entrar em contato pelo e-mail dasp@ufrr.br ou pelo telefone (95) 98113-0513 para agendamento ou informações.

Reprodução/UFRR



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