Etarismo no Mercado de Trabalho: O Desafio dos Profissionais na Busca por oOportunidades
- ranioralmeida
- 15 de ago.
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Por: Aline Kadija e Karina Paloma

O etarismo, ou a discriminação por idade, é um dos maiores desafios para profissionais com mais de 50 anos no mercado de trabalho. Esse preconceito se manifesta de diversas formas, desde a dificuldade de um novo emprego após uma demissão, até a falta de oportunidades de promoção dentro das empresas. Muitos talentos maduros são rotulados como “resistentes à mudança” ou “antiquado” diante de novas tecnologias, apesar de sua vasta experiência e conhecimento acumulado durante o tempo. Essa visão limitada ignora o potencial desses profissionais, e também priva as empresas de uma mão de obra qualificada e estável. A consequência é um mercado de trabalho que desvaloriza a experiência de pessoas com idade acima de 50 anos.
Em Boa Vista, existe a Lei Ordinária nº 2483/2023, que institui uma campanha de combate ao etarismo e outras providências. Para o advogado Deivid Mulinari a lei é essencial para o combate à exclusão de pessoas com mais de 50 anos no mercado de trabalho.
“Em Boa Vista, existe a Lei 2.483/2023, que institui a campanha de combate ao etarismo no município. A lei estabelece, no calendário municipal, um evento anual em outubro para conscientizar a população sobre o tema. A campanha, que coincide com o Dia Nacional do Idoso em 1º de outubro, visa informar a sociedade sobre o que é o preconceito etário e como evitá-lo. O objetivo é explicar a ideia de que a idade avançada torna uma pessoa incapaz ou menos qualificada, promovendo a inclusão e o respeito. A iniciativa busca incentivar empresas e a sociedade a criarem ações que beneficiem a inclusão de pessoas mais velhas, combatendo os estigmas e mostrando o valor da experiência. Essas campanhas são cruciais para que o talento e o conhecimento sejam reconhecidos, independentemente da idade”, explica o advogado.

A origem desse preconceito etário está ligada a uma cultura corporativa que historicamente priorizou a juventude e a agilidade ao invés da experiência e da sabedoria. As empresas, em busca de inovação e redução de custos, acabam por achar que profissionais mais velhos são menos produtivos ou mais caros. Entretanto, para as empresas que mantêm contrato de trabalho com pessoas acima de 50 anos, é necessário um incentivo das mesmas para transformar o ambiente de trabalho acolhedor.
“É essencial que as empresas realizem eventos de conscientização pelo menos duas vezes ao ano. Com o objetivo de informar seus colaboradores, especialmente em ambientes de trabalho com diversidade de idade, que a idade não está ligada à qualificação ou capacidade de uma pessoa. Atualmente, a média de idade no mercado de trabalho é mais alta do que em anos anteriores. Por isso, é fundamental que as políticas privadas das empresas fortaleçam a ideia de que a faixa etária não define a inteligência ou o potencial de um profissional. A conscientização interna é o primeiro passo para combater o preconceito e garantir um ambiente de trabalho mais justo e produtivo para todos”, destaca o advogado.
Apesar do preconceito etário, a experiência e a capacidade de adaptação de profissionais mais velhos são valorizadas em algumas empresas. Um exemplo inspirador é Jorge Atlas, que aos 58 anos, continua ativo e em ascensão no mercado. Com formação em medicina e jornalismo, Atlas é atualmente gestor do Grupo Norte de Comunicação e compartilha como a busca por aprendizado contínuo pode levar a cargos de destaque em qualquer idade, e conta os desafios de se manter relevante em um mercado de trabalho dinâmico.

“A rápida evolução tecnológica na sociedade moderna exige o domínio digital, um desafio para gerações mais velhas que tiveram acesso tardio à tecnologia, ao contrário dos jovens que já nasceram conectados. Essa falta de conhecimento não só os torna mais vulneráveis a golpes, como também impacta o mercado de trabalho, que agora exige habilidades digitais avançadas. Contudo, o cérebro humano é plástico e capaz de se renovar, mostrando que o aprendizado contínuo, aliado ao cuidado com a saúde e ao desenvolvimento de habilidades interpessoais, é essencial para que profissionais de todas as idades se mantenham competitivos e ativos em um mercado em constante mudança”, destaca Atlas com orgulho de estar sempre atualizado com as tecnologias.
Entretanto, o preconceito com a idade, vai muito além de uma questão empresarial. Ele afeta profundamente o bem-estar psicológico de profissionais com mais de 50 anos que, apesar da experiência, são constantemente rejeitados no mercado de trabalho. Essa exclusão silenciosa, onde a idade é o fator principal, mas nunca exposto, afeta a confiança e a segurança desses indivíduos, fazendo-os questionar o próprio valor profissional.
“Essa exclusão, por conta da faixa etária, pode gerar vários impactos profundos na autoestima, no sentimento de pertencimento e na saúde mental deste trabalhador maduro. Quando ele se sente descartável ou desvalorizado, ele pode desenvolver sintomas de ansiedade, de depressão, isolamento, perda de propósito, a pessoa começa a se achar inútil. E além disso, também tem um medo constante de ser substituído por profissionais mais jovens, o que vai gerando insegurança e vai criando uma tensão no ambiente de trabalho. Aí esse cenário afeta não só o desempenho, mas também a motivação e a qualidade de vida dentro e fora da empresa”, pontua a psicóloga Camila Barbosa, explicando as consequências da exclusão no mercado de trabalho.

Além da exclusão do mercado de trabalho, o preconceito com a idade também se manifesta de forma implícita dentro das próprias empresas. Como destaca a psicóloga, essa discriminação pode ocorrer em diversas situações do dia a dia corporativo, afetando a dinâmica e a valorização dos profissionais mais experientes.
“O etarismo nem sempre é explícito; muitas vezes, ele acontece de forma velada. Vemos isso na exclusão de profissionais mais velhos de projetos estratégicos, partindo do pressuposto de que não são tecnologicamente atualizados, ou na falta de oportunidades de promoção e desenvolvimento. Nessas situações, surgem comentários como ‘isso é coisa de quem não é da nova geração’ ou ‘ele já está perto de se aposentar, não vale a pena investir’. Isso acaba reforçando estereótipos e marginalizando a experiência e a sabedoria acumulada desses profissionais.”

A presença de profissionais com uma idade e experiência avançada é fundamental para o crescimento de qualquer empresa. Sua experiência e conhecimento acumulado ao longo dos anos oferecem uma perspectiva única, ajudando a solucionar problemas complexos e a guiar novos talentos com mais segurança.
“Qual é o seu maior valor depois dos 50?”, Jorge Atlas responde a essa pergunta. Ele nos mostra o que as empresas frequentemente esquecem: a importância da experiência e como ela pode ser um diferencial no mercado de trabalho. Uma mensagem essencial para profissionais e empresas.



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