Entre o diagnóstico e o abraço: Os desafios e prazeres da maternidade atípica
- ranioralmeida
- 15 de ago.
- 3 min de leitura
Mães que transformam desafios em cuidado e afeto
Por: Jhennifer Silva

A maternidade é uma jornada delicada para toda mãe, mas para as que vivem a maternidade atípica esse processo pode ser ainda mais desafiador e imprevisível.
Quando se fala em maternidade atípica, refere-se às mães de filhos atípicos, e às mães atípicas de filhos típicos. Em ambos os casos, essas mães lidam com experiências complexas na criação de seus filhos.
Enfrentar o desconhecido é uma vivência constante na jornada materna dessas mulheres. A maternidade atípica envolve os processos de descoberta do diagnóstico, adaptação, habilidades emocionais, busca pela rede de apoio e uma compreensão adequada das necessidades do filho ou da própria mãe.
A professora Verônica Carneiro é mãe de uma criança autista, ela destaca que a jornada na maternidade atípica envolve desafios ímpares, e a preocupação sobre como a criança será aceita na sociedade é um deles:
“Depois do laudo da minha filha vieram os desafios, que foram a socialização, a questão de como ela ia ser aceita, na família, na escola e na sociedade. Eu tive que me dedicar em horários específicos para acompanhar ela em terapias, em aulas extra, em brincadeiras, porque a Melissa está sempre em movimento, ela participa de muita coisa,” partilhou Verônica.
Questionada sobre como se sente em relação às políticas públicas para as condições neurodivergentes da sua filha, a professora compartilha sua opinião:
“Com o crescimento no número de crianças autistas, infelizmente o poder público ainda deixa a desejar, em questão de diagnóstico, de medicamento, terapias. Nós já tivemos muitos avanços, mas existem sim recursos para ajudar mais nessas questões, porque infelizmente aqui no estado existem poucos profissionais na área. Eu mesma, como mãe, fiz cursos, participei de palestras, oficinas, para poder entender mais e aprender a lidar com as crises. Então, cada família busca os recursos cabíveis, o que está ao seu alcance.”
Já o caso de Cyneida Correia é oposto, suporte nível 1 de autismo, Cyneida descobriu seu diagnóstico bem depois de se tornar mãe. Ela conta o que mudou na maternidade após a descoberta do seu diagnóstico:
“O diagnóstico veio depois de eu já ser mãe, foi um diagnóstico tardio, eu descobri que sou autista já na idade adulta. Mudou bastante o meu relacionamento com meus filhos. Eu passei a ter mais paciência, a aceitar as minhas limitações, a buscar ajuda quando eu preciso, a organizar melhor a minha rotina para evitar situações de estresse extremo e transformar esses momentos difíceis em oportunidades de conexão com eles.”
Na oportunidade, Cyneida compartilhou como seus filhos lidaram com a situação:
“Meus filhos lidaram de forma mais ou menos natural. Aos poucos eles começaram a entender as particularidades que eu tenho, a necessidade de um pouco mais de silêncio, de sossego, e ficaram mais empáticos comigo em relação a isso,” destaca.

Nesses e em muitos outros casos, as mães precisam adaptar a criação de seus filhos enfrentando desafios extras, como a busca por ambientes educacionais e inclusivos. Mas apesar dos desafios, a maternidade atípica proporciona sentimentos únicos nessa jornada. Mesmo com condições maternas diferentes, Cyneida e Verônica destacam um ponto em concordância: os prazeres de serem mãe:
“Ser uma pessoa autista e mãe foi um processo complexo e cheio de descobertas. Eu passei a entender melhor o meu relacionamento com meus filhos a partir do diagnóstico (...) entendi as minhas próprias necessidades emocionais e sensoriais, e como mãe, eu passei a olhar a maternidade com mais cuidado e planejamento,” diz Cyneida.
É uma grande satisfação depois de todo esforço e toda luta ver as conquistas dela, da evolução em sala de aula e no meio da sociedade. A Melissa teve um apoio surreal. Essa fase inicial é complicada mesmo, mas depois vem a satisfação de ver a evolução da criança. Isso não tem preço,” finaliza Verônica.



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