Entenda como garantir o bem-estar do pet quando viajar sem ele
- ranioralmeida
- 4 de ago.
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Hospedagens e cuidadores: alternativas para deixar seu pet em boas mãos.
Por: Juliana Soares e Yasmin Tavares

Com a aproximação das férias, muitos tutores se deparam com o dilema de viajar sem deixar seus animais de estimação desprotegidos. Com o aumento da demanda por voos, o passageiro que não pode levar o pet precisa avaliar qual é o melhor ambiente para hospedar o animal.
Conforme o Ministério do Turismo Brasileiro, o país apresentou um aumento no número de voos domésticos no início do ano, com um crescimento de 8,3% com relação à mesma época em 2024. Este dado demonstra uma elevação na procura por voos nacionais,acompanhando um recorde em voos internacionais no ano passado. Nesse mesmo intervalo, o Brasil ocupou uma posição relevante no ranking global de voos domésticos, respondendo por 1,2% do total de voos no mundo, evidenciando uma recuperação após a pandemia.
Outro acréscimo em destaque é o número de pets no Brasil. Segundo o Senado Federal, a nação possui a terceira maior população de bichinhos de estimação do mundo, totalizando cerca de 150 e 160 milhões de pets. O número demonstra os laços de carinho que os brasileiros criaram com os animais, com muitos os considerando parte da família.

Apesar de ser um serviço que garante a companhia do pet, o transporte de animais domésticos ainda é uma opção inacessível para muitos tutores no momento da viagem, pelo custo da viagem, requisitos para embarque e o modo com que o animal será transportado, principalmente em viagens aéreas.
Hospedagem pet e como funciona
Para Mira Sarmento, empreender na área de creche e hospedagem de cães e gatos surgiu em meio a dificuldades. Após precisar sair do emprego para cuidar de sua cachorrinha, Mira precisou ter uma nova renda e iniciou a hospedagem de pets, em primeiro momento com poucos animais por conta da dimensão de seu apartamento. Foi em 2023, após mudar para uma casa onde haveria mais espaço, que Mira resolveu ampliar seus atendimentos de hotel e creche.
“Os momentos de maior movimento são os de alta temporada, julho e dezembro. Mas aqui a gente também tem uma questão que, como a maioria das pessoas é de fora, elas acabam viajando muito, então os feriados também acabam oportunizando.”
Mira explica que exigem cuidados com os animais hospedados antes da confirmação, ao ser cobrada uma atualização de vacinas e remédios dos pets. Medidas são necessárias para evitar contaminação em conjunto dos outros animais presentes no local.
No local, os animais costumam seguir um processo após a chegada como um reconhecimento do local e com uma socialização realizada com os outros pets. Após isso, os animaizinhos são instigados à queima de energia, com um estímulo de petiscos e sem uso de guia, livremente. Finalizada essa queima, eles socializam novamente e descansam antes da atividade seguinte.
“A gente elabora o processo de esconder os petiscos e eles irem caçar. Aí eles vão farejar, vão cavucar, arrancar, tirar tudo”, conta.
Os tutores são informados sobre o dia a dia do animal por meio de grupos em aplicativo de mensagens em que são encaminhados os vídeos e as fotos das atividades que estão sendo feitas. E por esse canal de comunicação que ocorre também diálogos de alerta sobre atualizações de saúde dos animais, fator de muita importância para quem cuida com zelo dos pets.
“A gente manda mensagem dizendo para se atentar às vacinas, carrapaticidas. Para ficar alerta, prevenindo assim uma contaminação entre os bichinhos. Por exemplo, o problema das virais, de fácil transmissão. Carrapato também, porque se um tiver carrapato, vai se agarrar com o outro ali e vai pegar”, ressalta Mira.
Aplicativos que conectam você a cuidadores de pets
Além dos estabelecimentos voltados para o alojamento temporário voltados para a prática, um profissional que age de forma independente vem se destacando nesse ramo: cuidadores autônomos.
Estes podem cumprir diferentes serviços, como o de pet sitter, creche e hospedagem. Respectivamente, a primeira ocupação é quando o cuidador vai até a casa do tutor zelar pelo animal doméstico, a segunda se refere a uma estadia de um dia na residência do profissional, e a última a uma estadia por um tempo combinado previamente.
Uma plataforma que reúne essas pessoas é a DogHero, atuando como uma rede que conecta indivíduos interessados em contratar ou fornecer os serviços mencionados. Chamados de heróis, esses cuidadores fornecem um perfil informando o que oferecem, preferências, disponibilidade e se ele já possui algum bichinho.
O contato começa pelo site ou aplicativo, quando o dono faz a reserva dos dias em que deseja manter o pet sob tutela. Em seguida, há a visitação, em que tanto a pessoa e seu animal vão para a casa do cuidador, conhecer o ambiente e, futuramente, levar brinquedos, ração, a caminha e as informações que serão utilizadas para assegurar uma boa permanência.
Essa é a experiência ao se hospedar com Ohana Lobo, uma das heroínas que integram a DogHero. Para ela, seguir esse caminho surgiu do amor que sempre teve pelos cachorros, a oportunidade na rotina e o espaço amplo de sua casa. Ao conhecer o programa, a moça logo fez o cadastro e começou a trabalhar na área.
Durante as férias, o relato é de que a demanda pela ocupação é intensa, mas especificamente no meio de junho, julho, dezembro e janeiro, por ser o período em que as pessoas mais viajam.
Um dos desafios desse meio é elaborar uma abordagem com os diferentes tipos de pets. Comportamentos, personalidades e preferências são aspectos fundamentais ao fornecer a hospedagem ou creche, por determinarem a manutenção que o herói terá de realizar.
“Tem as diferenças entre os cachorros dóceis e os bravos. Já recebi alguns cachorros bravos, então evito pegar outros cachorros, pois nem todos se dão bem entre si. E têm diferenças de gatos para cachorros, os cachorros ficam mais livres, os gatos já ficam totalmente reclusos em casa, porque podem ter o risco de fugir”.

Ohana geralmente realiza passeios e brincadeiras, porém, ela cita que nem todos os bichos passam pelo mesmo tipo de programação: quando são filhotes, a brincadeira é constante, mas, quando é idoso, as atividades são menos intensas.
O que saber antes de deixar seu animal
A médica-veterinária Fernanda Araújo explica alguns pontos importantes a serem observados em situações de viagens onde o pet não embarca junto. A primeira coisa a se pensar é garantir que esse animal fique em um ambiente que traga a ele segurança, o deixe confortável, buscando, entre as opções, a que seja menos estressante ao animal.
Se o pet for ficar em casa, é recomendada a preferência por alguém conhecido pelo animalzinho, se não, um cuidador experiente, capaz de lidar com diferentes situações e comportamentos. Já no caso do animal ficar na casa de alguém conhecido, é essencial que ele conheça o ambiente com antecedência, para se familiarizar e se sentir mais confortável. E isso é ainda mais importante caso haja outros animais no local, pois a interação entre eles pode influenciar diretamente na adaptação.
As mesmas orientações são dadas em caso de escolha por hotel, sempre avaliando se o local possui estrutura adequada, rotina estabelecida e suporte veterinário em caso de necessidade.
Mesmo com todos esses cuidados, a ausência do tutor para o animal pode gerar estresse, ansiedade de separação, alterações de apetite, problemas gastrointestinais e até mudanças comportamentais, como apatia, agitação ou comportamentos destrutivos. E para tentar amenizar essas situações, é importante que algumas informações sejam repassadas ao responsável pelo animal na ausência do dono.
“É importante passar todas as informações sobre rotina alimentar, horários de passeios, medicações, restrições alimentares, contatos do veterinário, histórico de saúde e qualquer comportamento específico. Deixar também o cartão de vacinação e autorização para atendimento veterinário em caso de emergência.”

Passado o período de viagem, a veterinária explica que o encontro de retorno deve ser realizado com calma, evitando demonstrar uma euforia que pode causar ansiedade ao pet. É necessário ir retomando gradualmente a rotina e se atentar ao comportamento nestes primeiros momentos após o retorno.
“O animal pode ficar muito ansioso e eufórico quando você voltar. Apesar de parecer “frio”, a conduta mais correta é não estimular ainda mais esse comportamento. O contato só deve ser feito quando ele estiver mais calmo.”
Fernanda explica que não é normal que o pet sinta estranheza com este retorno, ao menos que a viagem seja realmente extensa. Caso o animal apresente comportamentos atípicos, como apatia, agressividade, recusa alimentar, vômitos, diarreia, por mais de 48 horas, o ideal é buscar a orientação de um profissional. Podem existir mudanças comportamentais nos primeiros dias, mas se forem persistentes, é importante investigar causas físicas ou emocionais.
Quando o improviso vira opção para cuidar do seu pet
Apesar das opções disponíveis, há ocasiões em que não é possível deixar o animal de estimação em um local de hospedagem, ou com um pet sitter. Em casos em que o tutor precise viajar de última hora, especialmente quando o imprevisto surge em períodos de férias, os preços destas ofertas apertam o bolso.
Em momentos assim, confiar o pet para um amigo ou parente que garanta a segurança e bem-estar do bichinho pode ser uma solução que ameniza o impacto nos gastos e preocupações do dono. Esse foi o caso de Elisangela de Matos Tavares, dona de um pet, que necessitou encontrar um lugar para acolher sua cachorrinha Amora, um pug que, na época, mal completara um ano de vida.
"A gente procurou por alguma creche, mas como o tempo de viagem era muito extenso, o valor ficou, assim, bem puxado e ficou difícil. Foi então que apareceu um amigo meu e se ofereceu para ficar com a Amora por esse tempo todo. E aí foi bem melhor, porque a gente só teve o gasto com ração e petisco, ela ficou e foi muito bem tratada", relata.

Essa alternativa se mostrou como um recurso para a situação de Elisangela. Ela manteve contato com o amigo para se informar sobre a Amora, sempre se atentando ao comportamento que a cachorra manifestava durante o tempo em que estavam separadas.
Elisangela conta que, quando se viram novamente, apesar da estranheza inicial, o reencontro com Amora foi tranquilo. Em um dia, o clima da casa já estava como antes: cercado de correrias e chamegos entre as duas.
"Quando a gente retornou, ela ficou, em princípio, meio desconfiada, ficou muito perto do meu amigo no encontro. Aí fui chamando pelo nome, brincando com ela, até que ela foi chegando para perto e reconheceu. Fez uma ronda no nosso quintal e, logo depois, voltou a interagir normalmente conosco".
O encontro com alguém de confiança para cuidar do bicho de estimação pode ser uma escolha determinante para o futuro do animal. Em muitos casos em que o indivíduo não encontra uma alternativa para manter o pet durante a sua ausência, o tutor opta, ilegalmente, por se desfazer do companheiro.
O abandono de animais é uma prática ilegal na qual se intensifica na temporada de férias, devido ao mau planejamento com relação às viagens, acarretando seu desamparo. Esse tipo de negligência viola a Constituição Federal e a Declaração Universal do Direito dos Animais, que estabelecem os animais domésticos como detentores de direitos, respeito e proteção.
Em 2024, a Assembleia Legislativa de Roraima implementou novos regulamentos para a legislação que engloba os direitos dos animais no estado. Dentre eles, a aprovação da Lei nº 1932/2024, que impede a venda de medicamentos anticoncepcionais hormonais destinados ao uso veterinário em cães e gatos, e a constância das campanhas de Abril Laranja, por meio da Lei nº 1828/2023, são as medidas mais recentes sobre a causa.



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