Doação de Sangue: Histórias Reais Mostram a Importância do Gesto e os Desafios Enfrentados
- Joao Gabriel Grana
- 2 de jul.
- 3 min de leitura
Mesmo sendo um processo rápido, seguro e gratuito, ainda são poucos os brasileiros que doam com frequência.
Por: Aline Kadija Bezerra e Karina Paloma Abreu

A doação de sangue é um dos principais pilares da saúde pública, mas poucas pessoas realizam a ação constantemente. Entre as razões para isso estão o medo, a desinformação e, em alguns casos, barreiras como preconceito ou exigências médicas mal explicadas. Para entender melhor os desafios e as motivações que envolvem esse gesto, ouvimos quem já doou, quem tentou doar e quem planeja doar pela primeira vez.
Deniane Costa é doadora de sangue há cerca de três anos. Ela começou a doar em um dos momentos mais difíceis de sua vida, quando a mãe precisou de sangue para realizar uma cirurgia.
“Eu estava no hospital com minha mãe internada, e ela precisou de bolsas de sangue. Me vi ali pedindo doações e pensei: se eu vou pedir para os outros, tenho que ser a primeira a doar”, conta.

Apesar do receio inicial, ela foi até o hemocentro e fez sua primeira doação.
“Eu estava com muito medo, achando que ia doer muito, que ia ser complicado, mas foi tranquilo. O atendimento é muito bom, a equipe é preparada. Não doeu, foi rápido”.
Desde então, Deniane se organiza para doar a cada três meses, respeitando o intervalo necessário para mulheres. Ela ainda deixa um recado para quem sente receio de realizar a ação.
Nem todos os relatos, porém, são positivos. Anieli Bezerra, psicóloga, conta que tentou doar sangue duas vezes, mas a segunda experiência foi marcada por constrangimento e discriminação.
“Na primeira vez, foi tudo tranquilo. Fizeram perguntas sobre medicamentos, hábitos de saúde, e depois fui encaminhada para doar normalmente”, lembra. Mas durante um evento que discutia a homofobia na saúde, ela tentou doar novamente e se deparou com outro tipo de abordagem.
“A técnica foi ríspida. Eu estava em um relacionamento com uma mulher e ainda tomava medicação controlada. Fui questionada de forma invasiva sobre minha vida íntima. Me disseram que eu precisava estar há mais tempo no relacionamento e que, por tomar remédio, eu não podia doar”.

Anieli afirma que se sentiu julgada por ser parte da comunidade LGBTQIAP+ e que houve um tratamento diferente em relação à sua sexualidade. Esse fato aconteceu em 2022, quase um ano depois de o Senado ter aprovado o projeto que proíbe a discriminação de doadores de sangue por orientação sexual.
“As perguntas foram ofensivas, pareciam mais um interrogatório do que um procedimento de triagem. Apesar da situação ser desconfortável, tenho vontade de doar novamente, mas tenho medo da situação acontecer novamente”.

Débora Martins, jornalista, ainda não doou sangue, mas tem o gesto como um dos objetivos para 2025. Durante muito tempo, não pôde doar por não atender a um dos critérios mínimos: o peso.
"Eu sempre quis doar, mas não tinha o peso ideal. Agora que atendo aos requisitos, quero finalmente fazer a minha parte", afirma. Para ela, a doação representa um compromisso com o coletivo. "É uma forma simples de ajudar. Espero poder contribuir com muitas vidas".
Doações de sangue no Brasil
Apesar de histórias como a de Deniane e Débora mostrarem o lado positivo e o desejo de contribuir, o Brasil ainda registra índices baixos de doação.
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2023 foram coletadas 3,25 milhões de bolsas de sangue. Em 2024, o número aumentou para pouco mais de 3,31 milhões de bolsas, atingindo aproximadamente 1,6% da população brasileira.

Mesmo com o avanço, os números ainda estão abaixo do mínimo de 3% recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir os estoques de sangue com segurança em todo o país.
Pré-requisitos para doar:
Para ser um doador de sangue, é preciso atender a alguns critérios básicos.

A doação de sangue pode salvar até quatro vidas com uma única bolsa. É um gesto simples, com impacto direto na vida de pacientes em cirurgias, vítimas de acidentes, pessoas com doenças crônicas ou em tratamento de câncer.
Posicionamento
Procuramos a Secretaria de Estado da Saúde (SESAU) para obter um posicionamento sobre as questões levantadas nesta reportagem, especialmente sobre os protocolos de triagem. No entanto, até o momento da publicação, não obtivemos retorno.



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