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A quebrada também treina: atividade física nas praças e bairros de Boa Vista

Como moradores de Boa Vista estão criando rotinas de treino em espaços públicos, vencendo os obstáculos do custo de vida e da falta de acesso a academias privadas.


Por Vinícius Santos Picanço


Praça do bairro Buritis. Foto: Vinícius Picanço/arquivo pessoal.
Praça do bairro Buritis. Foto: Vinícius Picanço/arquivo pessoal.

A prática de atividade física tem crescido em Boa Vista (RR). As academias privadas seguem cheias, mas a realidade é outra para uma parcela da população, onde o alto custo de vida dificulta manter uma rotina de saúde com regularidade.


Com o aumento da inflação e o preço dos alimentos, nem todo mundo consegue pagar por um plano de academia, incluindo um personal trainer, suplementação e alimentação balanceada. Ainda assim, é nas praças que a saúde ganha corpo.


Entre passadas, barras, alongamentos e pesos improvisados, os moradores da cidade estão criando suas próprias formas de resistir ao sedentarismo, mesmo sem equipamento de última geração, sem personal trainer e sem dinheiro sobrando.


O que falta em estrutura, sobra em vontade: Boa Vista pode estar longe dos grandes centros fitness, mas o movimento pela saúde não deixa de ser uma escolha para quem deseja mudar de hábito ou até de vida através da atividade física.


Quando correr muda tudo


Stéfanny treina regularmente nas ruas de Boa Vista. Foto: Vinícius Picanço.
Stéfanny treina regularmente nas ruas de Boa Vista. Foto: Vinícius Picanço.

Se para muitos a falta de estrutura é um obstáculo, para outros, é justamente a força interna que empurra o corpo pra frente. É o caso de Stéfanny de Lima, assistente administrativa que encontrou na corrida um caminho para se conhecer melhor.


“Sempre gostei de esportes, mas a corrida era algo esporádico. Só em 2024 eu decidi focar mais na minha saúde. Entrei em um grupo de corrida e nunca mais parei.”


Treinando em praças e ruas de Boa Vista, ela passou a construir metas pessoais, e, aos poucos, superou limites físicos e emocionais.


“Eu não conseguia correr 5 km sem caminhar. Treinei para isso e consegui. Depois vieram os 10 km, a meia maratona... A corrida me mostrou que sou capaz de realizar qualquer coisa.”


Vinícius Picanço/arquivo pessoal
Vinícius Picanço/arquivo pessoal

Mas não é fácil manter a rotina. Ela fala sobre os principais desafios:


“O cansaço do trabalho pesa. Se você não dorme e não come bem, o treino não rende. É uma luta diária com a mente.”


Para Stéfanny, correr é mais do que exercício: é libertação.


“Sinto liberdade, superação e alívio do estresse. É como se eu pudesse conquistar o mundo logo depois.”


O que dizem os especialistas?


A prática regular de exercícios físicos, mesmo fora de academias tradicionais, já traz benefícios significativos para o corpo e para a mente. Segundo o professor de Educação Física Léo Franceschi, o mais importante é sair do sedentarismo:


“Todo exercício ajuda a tornar o corpo mais funcional. Mesmo com movimentos simples, você já tem ganhos como queima de calorias, melhora do perfil glicêmico, redução de triglicerídeos e colesterol”, explica.

Ele também ressalta o impacto social e emocional da prática em grupo ou em espaços públicos:


“Você se conecta com outras pessoas, troca experiências e melhora a saúde mental. Isso também contribui para o amadurecimento pessoal, que é uma parte pouco falada, mas essencial.”

Franceschi reforça ainda que é possível ganhar força, resistência e condicionamento com exercícios feitos ao ar livre.


“Talvez não se tenha tanta variedade quanto numa academia, mas a resistência melhora bastante com treinos consistentes. E os ganhos de força podem ser grandes até atingir um platô, o que pode demorar anos ou até nunca acontecer.”


Sobre o condicionamento físico, ele destaca:


“Se a gente pensar em capacidade respiratória e cardiovascular, treinos livres, como corrida ou circuitos em praça, podem até gerar mais resultado do que treinos fechados.”


Na praça do bairro Buritis, a saúde ao ar livre tem dia e hora marcada.


Idosos praticam atividade física gratuita na Praça do bairro Buritis, em Boa Vista. Foto: Vinícius Picanço/arquivo pessoal
Idosos praticam atividade física gratuita na Praça do bairro Buritis, em Boa Vista. Foto: Vinícius Picanço/arquivo pessoal

No bairro Buritis a prefeitura mantém um programa voltado para a terceira idade, com atividades físicas gratuitas realizadas sob orientação profissional.


O grupo se reúne todas as segundas, quartas e sextas-feiras, às 7h da manhã, transformando a praça em um espaço de convivência, autocuidado e movimento. “Algumas pessoas não conseguem pagar por uma academia, uma aula de natação, aí isso daqui é bom para nós’’, conta a aluna Vânia Silva.


De acordo com o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, pessoas idosas devem praticar, pelo menos, 150 minutos de atividade física moderada por semana. Além disso, é recomendado que atividades de força e equilíbrio sejam realizadas em dias alternados, justamente para prevenir quedas e fortalecer a autonomia na velhice.



Saúde não mora só na academia

Entre a orla, a praça e o asfalto, moradores de Boa Vista seguem se movendo — não por luxo, bem-estar e escolha.


Histórias como a de Stéfanny, que descobriu força correndo sozinha, e de Vânia, que se mantém ativa nas academias populares da prefeitura, mostram que a saúde pode (e deve) ser acessível.


Com ou sem aparelho moderno, o corpo pede movimento. E em cada bairro, há alguém fazendo o melhor com o que tem. A quebrada também treina. E vai continuar em movimento.


 
 
 

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