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Reflexo de Roraima: A atuação do IBGE na construção de políticas sociais

Atualizado: 28 de jul.

As informações coletadas se transformam em dados e orientam ações para o desenvolvimento social


Por Juliana Soares e Yasmin Tavares


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é um conjunto operacional da área geográfica e estatística, que realiza um mapeamento do país por meio de pesquisas e análises dos aspectos sócio-estruturais do meio social brasileiro.


Uma das análises mais conhecidas feitas pelo órgão é o Censo Demográfico, responsável por realizar a coleta de informações dos indivíduos, a fim de realizar um perfil do brasileiro em determinado período, por meio da visita a todos os domicílios do país. 


Ele é concretizado a cada 10 anos, via questionário feito aos moradores, dividido em questionário de amostra e questionário básico. Em geral, todos os domicílios respondem o formulário básico, mas somente uma porcentagem dos domicílios responde ao de amostra, possuindo uma abordagem bem mais ampla, com alguns temas que depois serão expandidos para o restante da população.


O último Censo Demográfico foi realizado no ano de 2022. Dentre as informações levantadas, um dos destaques foi o número populacional, que atingiu cerca de 203 milhões de habitantes no Brasil. Apesar de apresentar um aumento com relação ao Censo anterior, a pesquisa de 2022 demonstrou um baixo crescimento da população nunca visto antes, de 0,52%.


Apurações além do Censo

O assessor técnico especializado Eduardo Frigério atua no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de Roraima há dois anos, acompanhando os diferentes tipos de estudos realizados pela organização. 


Há uma variedade extensa de apurações feitas pelo órgão. Os dados estatísticos obtidos pelo IBGE impulsionam a criação e manutenção de programas políticos e sociais em diferentes áreas da sociedade. Eduardo fornece um exemplo sobre essa ação:


“Semana passada foi divulgado migração e fecundidade no Brasil. Aqui em Roraima é bem importante esses dados. Essas perguntas foram feitas em uma parte dos domicílios de Roraima e depois, com as informações dessa parte, eles conseguem expandir por um processo estatístico para entender quantos imigrantes têm em Roraima, quantos filhos as mulheres migrantes estão tendo, dentre outras informações que ajudam a entender esse parâmetro”. 


Eduardo Frigério, assessor técnico especializado do IBGE Roraima. Foto: Juliana Soares.
Eduardo Frigério, assessor técnico especializado do IBGE Roraima. Foto: Juliana Soares.

Ele conta que a escolha dos domicílios é feita à parte, mas que já é definida por uma seleção automática aleatória. Os setores são definidos conforme os municípios, bairros e o estado. As pesquisas se dão em variadas formas, podendo serem realizadas de forma contínua e periódica, sendo as mais desafiadoras as pesquisas de campo, ocorridas, por exemplo, na efetivação do Censo Demográfico, Censo Agropecuário e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua).


A fim de tornar a abordagem mencionada efetiva, Eduardo comenta as estratégias utilizadas:


“O que a gente faz para tentar evitar a recusa e alguma indisposição com o nosso informante é dar a maior visibilidade possível para o IBGE, para saberem que ele existe além do Censo. O trabalho aqui da biblioteca, de atendimento à imprensa, estudantes, é fundamental para que o IBGE esteja sempre na mídia e o pessoal saiba que está existindo uma pesquisa, porque já acontece também casos de pessoas aplicando o golpe como se fosse do IBGE”, comenta o assistente técnico.


Apesar dos desafios enfrentados, com destaque para o enfrentamento da associação que as pessoas fazem da instituição com a política, o funcionário reafirma a importância do IBGE, graças a sua atuação em todas as esferas, produzindo informação para ser utilizada por meio de dados. Além disso, Frigério afirma que os materiais analisados pela organização são públicos e de livre acesso no site oficial, oferecendo um caminho para o acesso à distribuição de dados de outros órgãos. 


Eduardo Frigério explica sobre como funciona a atuação de algumas pesquisas feitas pelo IBGE e qual o propósito de cada:


ÁUDIO 01 - REPRESENTANTE IBGE

A vivência de quem esteve na rua 


Os desafios de quem já trabalhou na execução de uma pesquisa domiciliar podem ser descritos pelo recém-formado em Ciências Sociais João Vitor Abreu, que atuou entre 2022 e 2023, exercendo papel de supervisor em uma pesquisa complementar ao último Censo Demográfico realizado no país.


João trabalhou por oito meses na Pesquisa de Pós-Enumeração (PPE), e relata ter sido uma experiência de vida, principalmente pela possibilidade de se aprofundar nos dados que geralmente são fornecidos pelo órgão. 


“Entrei para a PPE, que era complemento do Censo, uma pesquisa amostral, mais rápida, que tinha função de auxiliar na qualidade dos dados sobre a população. Era relativamente diferente, mas o trabalho era igual: tinha recenseadores, supervisores, questionários, uniformes, visitas aos moradores, dentre outras atividades”.


João durante uma supervisão final, acompanhado da coordenadora da pesquisa e uma colega de equipe. Foto: Juliana Soares.
João durante uma supervisão final, acompanhado da coordenadora da pesquisa e uma colega de equipe. Foto: Juliana Soares.

Ele explica como era a relação com os entrevistados, pois apesar de conhecerem por nome, muitos tinham receio ou desconfiança por não entender a função do IBGE. Assim como dito anteriormente pelo assessor técnico especializado do órgão, João cita o desafio de esclarecer a inexistência de ligação política partidária, principalmente pelo período de sua participação ter sido próximo às eleições presidenciais de 2022. Muitos negavam, resistiam, usavam ideais políticos para recusar, ou possuíam medo de dar informações a quem não conheciam. Seus relatos exemplificam os desafios enfrentados pelo Instituto em uma realidade de frequente desinformação envolvendo órgãos, e a desconfiança sobre levantamento de dados, apesar da disponibilidade pública das pesquisas formadas a partir das coletas.


Apesar de todos os desafios citados pelo jovem, ele reconhece a importância do órgão, citando o método de conhecer realidades, ajudando a entender fenômenos sociais, prever transformações econômicas e políticas, podendo contribuir em planejamento futuros.


“Não conheço nenhuma outra instituição que faça pesquisas com toda a população brasileira, nas mais diversas condições, entre diferentes grupos, de diferentes regiões desse país continental. E isso é essencial para que todos exerçam a cidadania que desejamos.”   


A importância da participação social


Há quem tenha muito interesse em contribuir nas pesquisas realizadas, como o caso da estudante Mell Maximiana que deixou claro para a família no Censo Demográfico de 2022 que gostaria de responder ao questionário, e acabou sendo convocada com a chegada do recenseador a sua residência.


"Eu já tinha ouvido falar das pesquisas do IBGE, inclusive quando soube que estava acontecendo um censo, fiquei ansiosa. Tanto que, quando o rapaz parou na minha casa, expliquei que estava esperando para responder, e ele comentou que essa não é muito a realidade que eles enfrentam. Quando vão fazer as perguntas, as pessoas geralmente não querem participar e têm certo receio."


Mell Maximiano, acadêmica da UFRR que já participou do censo. Foto: Arquivo Pessoal.
Mell Maximiano, acadêmica da UFRR que já participou do censo. Foto: Arquivo Pessoal.

A estudante relatou que a abordagem do pesquisador foi esclarecedora, e que ela compreende a necessidade de saber, por exemplo, a quantidade de moradores para que se faça uma resolução de melhorias em escolas, hospitais, ou a importância de perguntar sobre saneamento, para que se possa ter mudanças caso necessárias.  Ela explica que entende a presença dos dados realizados pela instituições em matérias, reportagens ou pesquisas.


Experiência de participação fora o Censo


A também estudante Victória Viana conta que recebeu a visita de pesquisadores, mas que de uma forma diferente ao Censo. Apesar de não saber citar o nome exato da pesquisa, a jovem explica que as perguntas eram sobre gastos cotidianos. Esse levantamento teria ocorrido durante mais de uma semana, com entrevistas durando duas horas.


“Eles queriam que todo mundo da casa respondesse sobre o que a gente comprava no mercado, quanto alimento, transporte, quanto a gente gastava com comida fora de casa, se a gente comprava fast food, quem era a pessoa que pagava a maioria das contas da casa, se eu trabalhava, se eu estudava”.


 A estudante relata que já possuía conhecimento sobre as pesquisas, mas que nunca chegou a participar diretamente, e que compreendia o intuito por enxergar como uma forma de saber como as pessoas estariam se alimentando, como valores de produtos estariam se modificando.


Ela esclarece ver diversas notícias que se baseiam ou citam dados coletados pela instituição, e que acredita ter sido um auxílio em uma delas ao atender a visita e questionários dos pesquisadores, contribuindo para esse retrato da realidade brasileira.



 
 
 

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