top of page

Pugilistas de Ouro: Roraima revela campeões e vive a melhor fase no boxe nacional

Projeto social liderado pelo professor Ronaldo transforma vidas, projeta jovens campeões, e coloca o estado no radar do boxe olímpico brasileiro


Por: Gabriel Mello e Lucas Gabriel


Foto: Lucas Gabriel
Foto: Lucas Gabriel

O título a qual Arrison se refere, é do Campeonato Brasileiro de Boxe Cadete e Juvenil que acontece entre 20 e 27 de setembro deste ano em São Paulo (SP), onde 13 atletas roraimenses participam da competição.


Eu estou mais focado. Ainda mais agora na reta final de preparação para o brasileiro. E para ser atleta, tem que estar disposto a sacrificar coisas para poder subir no pódio. Nesse caso, a gente tem disciplina que faz com que eu vá melhorando. E assim eu vou para o Campeonato brasileiro, que vou defender esse ano”, completou o jovem atleta.



Outra grande promessa é Sâmily Negreiros, medalhista de bronze no mesmo campeonato, na categoria juvenil de 2024. Com presença marcante nos treinos e uma personalidade forte, Sâmily é símbolo de resistência e empoderamento dentro da academia onde treina. Em Roraima ela é campeã invicta da categoria.


Quando eu comecei, a intenção inicialmente era só treinar, mas aí eu fui me apaixonando pelo esporte, me interessando muito e aí eu criei aquele interesse enorme pelo boxe. Desde então eu comecei a me aproximar mais do esporte e aí eu fiz a minha primeira competição aos 12 anos, onde ganhei e até aqui eu já tenho nove vitórias em primeiro lugar na categoria em Roraima” , contou à reportagem.


Legenda: Medalhista de Bronze na categoria Juvenil do campeonato brasileiro de boxe, Sâmily Negreiros. Foto: Lucas Gabriel
Legenda: Medalhista de Bronze na categoria Juvenil do campeonato brasileiro de boxe, Sâmily Negreiros. Foto: Lucas Gabriel

E mesmo muito jovem, a atleta já pensa em alçar voos mais altos.


Esse é só o início da minha carreira. Eu pretendo não só ficar no nacional, pretendo evoluir, tanto nas medalhas como chegar ao nível mundial ou até mesmo olímpico. Eu quero crescer no esporte, eu quero ser campeã, não só campeã aqui, mas campeã em que todo o Brasil me veja como campeã”, disse.



Sâmily não precisou ir muito longe para buscar inspiração para se tornar uma grande potência do esporte. Dentro da sua própria academia já tem o maior case de sucesso do boxe roraimense. O boxe feminino em Roraima, também tem seu nome no topo do pódio. Rafaela Marques Silva, ou simplesmente Rafinha, é a atual campeã brasileira na categoriaq sxg elite de até 57 kg. Filha do professor Ronaldo, hoje ela faz parte da Seleção Brasileira de Boxe Olímpico e desponta como uma potencial representante do país nos Jogos Olímpicos futuros.


A Rafinha começou aqui, vendo o projeto. Que na época começou na minha casa, então, ela pegava uma luva e batia em um saco. E enquanto ela treinava, eu reparei que ela levava jeito para lutar. No entanto, ela era muito pesada. Com 11 anos, tinha 72 kg, então a gente começou a dar um treino específico pra ela por causa do peso. E com 14 anos ela já era vice-campeã brasileira em Cuiabá e entrando na seleção olímpica”, contou o professor Ronaldo.


Dessa forma, Rafinha conquistou títulos inéditos e logo se tornou referência no esporte não só no estado, mas também no Brasil inteiro.



E hoje não é só de Roraima. Ela é a mulher mais vitoriosa da região Norte. Nenhuma outra mulher conseguiu o feito dela na região Norte. Olha que o Pará tem atleta desde 2007 no feminino. Mas a Rafinha conseguiu um feito inédito na região Norte. A primeira mulher campeã mundial escolar dos jogos olímpicos da da juventude”, completou.


Legenda: Rafinha em treinamento no Círculo Olímpico Brasileiro, em São Paulo. Foto: Arquivo pessoal
Legenda: Rafinha em treinamento no Círculo Olímpico Brasileiro, em São Paulo. Foto: Arquivo pessoal

O arquiteto por trás da revolução do boxe roraimense


O projeto mencionado por Ronaldo Silva, ex-pugilista, professor e hoje presidente da Federação de Boxe Olímpico Roraima (Feborr), é quem está por trás de cada medalha através de um trabalho incansável. Foi ele quem criou e estruturou a federação estadual, posteriormente reconhecida pela Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), e que abriu as portas para que atletas locais pudessem competir em nível nacional.


O projeto social foi sempre um sonho meu. Porque eu sou fruto de um projeto social que deu certo, só não ganhei muito título. Mas virei um bom cidadão, virei um bom filho, virei um bom pai, virei um bom treinador. Fui treinado por grandes treinadores,  morei 11 anos dentro da academia do meu treinador Luís Pereira, que é treinador do Popó, e ele foi como um paizão para mim. Então, vendo ele fazendo o que fez por mim, eu disse ‘Quando eu tiver a possibilidade de ter uma academia, ela vai ser também um projeto social’”, contou o professor.


Ronaldo administra duas academias: uma no centro da cidade que funciona há 20 anos, com estrutura voltada para alunos pagantes, e outra no bairro Santa Tereza, periferia da capital, onde funciona o projeto social “Atleta Livre” que atende mais de 100 crianças e jovens gratuitamente.


Nesse espaço, os alunos recebem aulas de boxe, equipamentos como luvas, capacetes e tênis, além de apoio com cestas básicas, tudo viabilizado por meio de doações e ações solidárias recebidas pelo projeto. A exemplo disso, a maior parte dos alimentos são arrecadados durante os campeonatos que a Federação Roraimense realiza durante o ano. 


O recurso do projeto, ele é muito pouco. Eu dependo muito de amigos e do meu trabalho lá no centro, na outra academia onde é pago. Então eu já faço de tudo para o projeto não fechar as portas.  Às vezes, tem atleta que passa necessidade. Então, eu me apeguei com a alimentação. Porque eu já passei fome e passar fome é difícil. Então, eu não deixo faltar alimentação, material esportivo e nem deixar o projeto fechado”, explicou o professor.


 Presidente da Federação de Boxe Olímpico de Roraima e criador do projeto “Atleta Livre", Ronaldo Silva. Foto: Lucas Gabriel.
 Presidente da Federação de Boxe Olímpico de Roraima e criador do projeto “Atleta Livre", Ronaldo Silva. Foto: Lucas Gabriel.

Apesar dos bons resultados obtidos pelo projeto, e de revelar excelentes atletas como Arrison, Sâmily e Rafinha, o professor Ronaldo revela algumas dificuldades enfrentadas ao longo destes 15 anos em que o projeto social funciona, principalmente pela falta de apoio governamental.


Aqui são R$ 2.500 de aluguel todo mês. Os atletas não compram luvas, tudo nós que compramos, um par de luva são R$ 250, 300, um protetor de cabeça desses custa o mesmo. O treinador que água e luz. Então, o custo é muito grande para manter um atleta e não ter nada do Poder Executivo. E quando nós ganhamos algo do Governo, é  passagem aérea. E nós mesmo assim temos que estar agradecendo, cobrando, adulando. Somos gratos? Claro que somos gratos porque a passagem também é muito importante para a competição” desabafou Ronaldo.


Dessa forma, quando não tira do próprio bolso, o professor busca parcerias através da própria comunidade e de Ongs parceiras para manter a academia e o projeto social funcionando à todo vapor.  


“É tudo sem fins lucrativos. Então, a gente se preocupa muito com a cesta básica. Eu tenho amigos como ‘Rodri’, da Ong “Moradia e Cidadania” que nos ajuda. Então tudo que eles me dão, já trago para cá  para manter alguns atletas que às vezes falta o que comer em casa. Material esportivo, como tênis, às vezes a gente tem uma ação  com doação de tênis. Eu falo com meus amigos, às vezes não é novo mas tá bom. Então essas ações sociais elas estão sempre sendo feitas quase todos os meses e assim a gente tá levando aí  há 15 anos esse projeto social”, 


 Atletas do projeto social contemplados com cestas básicas. Foto: Lucas Gabriel.
 Atletas do projeto social contemplados com cestas básicas. Foto: Lucas Gabriel.

O professor ressalta ainda a importância do esporte na vida dos jovens atletas e que o fortalecimento do boxe de Roraima em projeção ao cenário nacional é resultado desse cuidado com a categoria de base da modalidade.


“Esses atletas, geralmente, chegam na minha academia, através dos pais levando para tirar os filhos da ociosidade, porque às vezes tá violento, porque às vezes tá indo por um caminho errado, tá com uma amizade errada. Então, através do boxe, daqui a pouco ele começa a viajar e ver o mundo de outra forma e às vezes é 90%, 99% a gente não perde mais os atletas para o mundão. Isso é importante, a base realmente faz toda a diferença” disse Ronaldo.

 

Formação além do ringue


Além de Ronaldo, o projeto conta com a dedicação do mestre Reginaldo Miranda, que se divide entre as duas academias e ajuda a gerir mais de 100 crianças e jovens, para garantir que os treinos aconteçam com regularidade. Ele revela que ao longo dos anos, o projeto tem incentivado cada vez mais a mudança de vida dos jovens através do estudo e do esporte.


A gente vê a maturidade e o crescimento deles, porque um garoto desses quando ele vai para uma competição nacional acaba que ele volta diferente, ele volta querendo mais, ele volta buscando outros objetivos. Se ele não tinha um foco na vida, ele passa a ter. E o bacana de eu trabalhar da forma que eu trabalho com o Ronaldo hoje, é que a gente influencia muito essa galerinha tá estudando”, disse Reginaldo.


Professor Reginaldo durante aquecimento com seus atletas. Foto: Lucas Gabriel.
Professor Reginaldo durante aquecimento com seus atletas. Foto: Lucas Gabriel.

Hoje a gente tem muitos atletas que estão se formando academicamente em medicina, medicina veterinária, direito. Então isso é muito importante da gente estar trazendo essa galera aí para esse lado, tanto do esporte quanto do estudo. E esses atletas que já estão se formando aí academicamente, servem até de exemplo para os para os novos atletas que chegaram”, completou.


Outro grande parceiro de Ronaldo, é o seu amigo pessoal Jorge Macedo, ex-pugilista e hoje árbitro de boxe. Ele é o responsável por orientar  de forma prática e didática, os atletas nas regras e condutas dentro do ringue, ajudando na preparação para as competições.


“O fato de terem árbitros devidamente cursados, treinados, influencia na qualidade do dos atletas. Por exemplo, no sparring (luta) sem um árbitro, eles não têm todo esse conhecimento, a experiência de ter um árbitro ali, aplicando as regras. Isso influencia demais, porque quando eles chegam numa competição onde tem um árbitro, sem esse conhecimento, sem essa experiência de uma arbitragem nos sparrings, eles estranham muito e isso influencia o psicológico deles”, explicou o árbitro.


Árbitro Jorge Macedo, durante um sparring entre jovens boxeadores do projeto social. Foto: Lucas Gabriel
Árbitro Jorge Macedo, durante um sparring entre jovens boxeadores do projeto social. Foto: Lucas Gabriel

Com uma rede de apoio sólida e apesar de todas as dificuldades, o boxe roraimense cresce não apenas em resultados, mas em impacto social. Os jovens formados nesse ambiente saem transformados como atletas, como cidadãos e como exemplos de superação.


Enquanto novos talentos surgem nas periferias de Boa Vista, o trabalho do professor Ronaldo e sua equipe mostra que o boxe pode ser mais do que um esporte: pode ser um caminho para mudar vidas e formar pugilistas de ouro.





 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


Logo 2.png
  • Spotify
  • Instagram
  • Twitter

© 2025 

bottom of page