O silêncio depois do caos: a saúde mental dos jovens em Boa Vista no pós-pandemia
- Joao Gabriel Grana
- 16 de jul.
- 4 min de leitura
Como a juventude de Boa Vista (RR), especialmente estudantes universitários e jovens trabalhadores, têm lidado com os efeitos emocionais e comportamentais do pós-pandemia.
Por Vinícius Santos Picanço

O isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19 causou impactos profundos no mundo — não apenas físicos, mas também emocionais e comportamentais. Mesmo com o fim do caos sanitário e a diminuição dos casos graves e óbitos (um total de quase 13 milhões de mortos), muitos jovens seguem experimentando o que especialistas chamam de “isolamento emocional”.
A geração Z, nascida e criada em um ambiente digital, cresceu rodeada por smartphones, tablets e redes sociais. O excesso de telas, a exposição constante a vídeos curtos e o imediatismo das interações digitais estão entre os fatores que contribuem para o aumento da ansiedade, da hiper exigência e da dificuldade de socialização presencial
O isolamento social gerado pela pandemia da Covid-19 obrigou os jovens a adotarem uma nova realidade, as escolas foram fechadas e os espaços públicos foram proibidos de serem frequentados. Isso fez com que muitos adolescentes descobrissem novos hobbies, adotassem uma nova atividade e criassem um vínculo familiar mais forte, por outro lado, esse isolamento voluntário em excesso pode indicar algo sério, uma depressão ou fobia social.
O silêncio depois do caos

Apesar de muitos jovens enfrentarem ansiedade, solidão ou medo, nem todos viveram a pandemia da mesma forma. Cada experiência foi única, influenciada por fatores como família, trabalho, rotina e saúde emocional.
Não foram só os meses de isolamento que deixaram marcas. Para muitos jovens, o retorno à rotina também foi repleto de desafios, barreiras e medo, como revela Juliana Soares, 22 anos, estudante universitária que viveu o fim do ensino médio e o início da vida profissional durante a pandemia:
“Quando começou o período de quarentena da Covid-19, eu estava no início do meu terceiro ano do ensino médio. Foi um baque. No começo, achamos que seria rápido, mas não foi.”
A rotina limitada aos muros de casa trouxe sentimentos difíceis:
“Passei dois anos em casa, no máximo saía para lugares próximos. Com o tempo, isso me trouxe muita ansiedade. Sou uma pessoa que gosta de conversar, e aquela solidão começou a pesar.”
O retorno gradual também exigiu adaptação. Ao voltar à academia, o cuidado era constante:
“Parecia outro mundo. Máscara, álcool em tudo, receio de tocar nos aparelhos...”
Em 2022, ao ingressar no IBGE, novos medos surgiram:
“Trabalhava com visitas em domicílio. Tinha receio de adoecer, de contaminar minha família ou a dos outros. Isso mexia com a cabeça da gente.”
Hoje, mesmo com tudo mais flexível, ela ainda se pega refletindo sobre o impacto:
“Às vezes olho um ônibus lotado e penso: isso na pandemia era um risco direto de vida.”
Para Juliana, a pandemia não foi só um tempo de medo, mas de reconstrução emocional:
“Voltar a viver foi tão difícil quanto ficar em casa. A gente teve que reaprender como era viver lá fora.”
O impacto não foi igual para todos
Enquanto para Juliana, o isolamento foi um desafio emocional profundo. O afastamento social e a quebra da rotina de estudos causaram um sentimento de solidão que levou tempo para ser superado.
Já para Matheus Rangel, 28, autônomo, a quarentena provocou mais tédio do que sofrimento. “Na época, eu havia sido contratado, tinha muita coisa para fazer. Mas quando completou um mês de isolamento, bateu o tédio. Precisei renovar as atividades diárias. Assim que acabou, eu queria ver gente, mas hoje… nem sempre quero sair e ver pessoas”, conta, rindo.
O comerciante Dirceu Almeida, também de 28 anos, compartilha uma visão prática:“Eu estava trabalhando. Meu maior receio era contaminar minha avó, por causa dos clientes. Mas emocionalmente, fiquei tranquilo.”
Dirceu também reforça a importância da atividade física nesse processo: “Pedalar e correr foram o que me manteve firme.”
Essas diferenças mostram que o impacto da pandemia entre os jovens não foi uniforme, mas o fato de muitos se sentirem diferentes do “normal” reforça que algo, em todos nós, mudou.
Terapia não é papo de doido: é cuidado com você mesmo!

Muitos jovens ainda têm medo ou vergonha de procurar ajuda profissional. A psicóloga Mariana Gurgel acredita que o primeiro passo para quebrar esse receio é a informação:
“Quanto mais informações eles tiverem sobre como funciona a psicoterapia e como diferenciar um bom terapeuta, a confiança no serviço prestado aumenta.”
Ela também alerta que o processo terapêutico exige tempo e envolvimento:
“A psicoterapia é um processo a longo prazo, que depende da disponibilidade do paciente em repensar ideias e atitudes. Desconfie de quem promete cura rápida.”
Para garantir um atendimento seguro, Mariana reforça: “É importante que o psicólogo tenha registro ativo no Conselho Regional de Psicologia (CRP).”
E como buscar ajuda?
Clínica-Escola da Faculdade CathedralOferece atendimento psicológico gratuito ou a preços acessíveis. O agendamento é feito por formulário online, e os interessados entram em lista de espera.
CAPS III – Centro de Atenção Psicossocial
Rua Pavão, 295 – Mecejana, Boa Vista (RR)
Telefone: (95) 98420-7740
E-mail:clinicapsicologia@cathedral.edu.br
O atendimento é gratuito e realizado por equipe multiprofissional, basta comparecer e apresentar um documento oficial com foto e o cartão do SUS (Sistema Único de Saúde).
Oferece psicólogos cadastrados de todo o país, com sessões a partir de R$30. É uma alternativa prática para quem deseja atendimento remoto, com flexibilidade de horários e valores.
Sinais de que você pode precisar de ajuda:
Insônia;
Irritabilidade constante;
Sensação de vazio;
Alteração do apetite que leva à perda de peso;
Ansiedade ao estar em grupo;
Tristeza prolongada.
Nem todo mundo sente do mesmo jeito, mas todo mundo sente. Os efeitos da pandemia ainda ecoam no silêncio, nas ausências, no medo de sair, voltar e do futuro incerto. Falar sobre isso, escutar o outro e buscar ajuda são passos possíveis — e necessários, para que a juventude de Boa Vista possa viver com mais leveza o presente que já está aqui.
Procurar ajuda é fundamental nesse processo. O primeiro passo é querer ser ajudado. Ter uma rede de apoio com pessoas confiáveis, praticar atividades físicas ao ar livre, nem que seja uma caminhada já é um grande passo. É importante lembrar que você não está sozinho.




Comentários