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Boa Vista em alerta: Crescimento da violência e desafios da segurança pública na capital

Cidade enfrenta um cenário de criminalidade distribuída entre bairros centrais e periféricos.


Por Lucas Aires e Wesley Vieira


Ruas vazias à noite: insegurança nos bairros de Boa Vista. (Foto: Wesley Vieira)
Ruas vazias à noite: insegurança nos bairros de Boa Vista. (Foto: Wesley Vieira)

Considerada uma capital relativamente tranquila na região Norte, Boa Vista tem enfrentado novos desafios na área da segurança pública, impulsionados por fatores econômicos, geopolíticos e sociais. Os indicadores revelam um cenário marcado pela diversidade das ocorrências e pela presença da criminalidade em diferentes regiões da cidade.


A população boavistense convive com o sentimento de medo e vulnerabilidade. Para muitos moradores, sair às ruas — especialmente à noite — se tornou um motivo de constante preocupação. Um desses relatos é do estudante universitário Vinícius Picanço, vítima de dois assaltos registrados em 2010 e 2019. Ele conta que, em ambas as situações, os criminosos agiram com violência e intimidação.


Relato do estudante Vinícius Picanço. (Vídeo: Wesley Vieira)

Vinícius afirma que sua rotina mudou bastante, e descreveu o sentimento de insegurança ao andar nas ruas após os casos.


“Há aquela sensação de impotência, a gente fica naquele pânico, receio, a ansiedade de ficar pensando que uma hora vai ter que sair de novo, e acabar pensando demais nisso acaba prejudicando muito”, complementa.


Segundo dados da Polícia Militar de Roraima (PMRR), o bairro Senador Hélio Campos foi o que mais concentrou registros de ocorrências criminais em Boa Vista no ano passado, seguido por Cidade Satélite e Centro.


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O que chama atenção é o fato de bairros com perfis bastante diferentes apresentarem índices semelhantes. O Senador Hélio Campos é extenso, populoso e localizado em uma região mais distante do Centro, que, por sua vez, é marcado pelo fluxo intenso de pessoas, comércio e serviços. Ainda assim, ambos estão entre os mais afetados, o que aponta para desafios amplos da segurança pública na capital.


O capitão Ramilson Castro, do 2º Batalhão da Polícia Militar, aponta o bairro Senador Hélio Campos como uma das áreas com maior número de furtos, em razão de sua grande extensão territorial e da presença significativa de pontos de tráfico de drogas. Segundo ele, a dinâmica do consumo também influencia a criminalidade local.


“Uma das soluções para essa situação nos bairros seria uma ação coletiva entre os órgãos de segurança pública, de forma contínua e enérgica, para combater as ações criminosas, principalmente as relacionadas ao tráfico de drogas”, enfatiza.


Para o capitão, um dos principais desafios está relacionado ao aumento populacional gerado pelo crescimento do fluxo migratório nos últimos anos, o que possibilita a presença e atuação de facções criminosas.


Áudio 1 - Capitão Ramilson

Ele também destaca que a PM tem investido em infraestrutura e capacitação, além de ações preventivas que buscam estreitar os laços com a população.


Áudio 2 - Capitão Ramilson

Além da distribuição geográfica, os dados da PMRR também revelam os principais tipos de ocorrências registradas em 2023 e 2024. Lesão corporal, ameaça, e furto lideram o ranking, seguidos por crimes patrimoniais e situações relacionadas ao tráfico de drogas.


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Em um cenário mais amplo, os dados também apontam para um histórico de agravamento de índices violentos em Boa Vista nos últimos anos.


De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, Boa Vista registrou a terceira maior alta percentual de mortes violentas entre todas as capitais brasileiras, com crescimento de 9,9% entre 2020 e 2021 — ficando atrás apenas de Manaus e Macapá. A capital teve, ao todo, a quinta maior taxa de mortes violentas (34,8).


Já no levantamento mais recente, divulgado em 2024, Boa Vista voltou a aparecer entre os piores índices nacionais: é a terceira cidade com a maior taxa de estupros por 100 mil habitantes, atrás apenas de Sorriso (MT) e Porto Velho (RO). A estatística reforça a presença da violência sexual como um dos principais desafios no contexto urbano e social da capital.


Para o especialista em segurança pública Ney Sampaio, alguns elementos estruturais ajudam a entender o panorama atual da criminalidade na capital roraimense.


“Alguns fatores acabam gerando a questão da violência, como o desalento social, a questão do desemprego, e a falta de estrutura de alguns órgãos para que possam acolher essas pessoas”, afirma. 


Com 18 anos de experiência na área, Ney defende que o combate e prevenção envolve não apenas a atuação policial, mas também a participação ativa de outros setores da sociedade, como a educação e a cultura.


“A violência não é só responsabilidade do poder público”, afirma Ney Sampaio. (Vídeo: Lucas Aires)

O sociólogo e professor Rodrigo Chagas, destaca que o tema é frequentemente manipulado pelo sensacionalismo e interesses políticos.


“O primeiro ponto da violência, ele é historicamente, no mundo todo, um elemento que pode ser manipulado, e muitas vezes é para dimensões sensacionalistas. Isso só tem relevância, porque também isso acaba tendo um impacto direto na política e nas decisões dela. Ele lida com medo. Nós precisamos, do ponto de vista acadêmico, no mínimo problematizar. Do ponto de vista como pesquisador e analítico, precisamos pontuar. O fenômeno da violência não é uma coisa simples de ser pensada”, disse o sociólogo.


Professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de Roraima, Rodrigo Chagas (Foto: Henrique Santana/ Folhapress)
Professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de Roraima, Rodrigo Chagas (Foto: Henrique Santana/ Folhapress)

Rodrigo explica a ideia de criminalidade e alerta sobre os equívocos comuns na interpretação dos índices criminais.


“A própria ideia de crime é uma construção jurídica que tem que ser pensada, principalmente quando estamos na universidade. Como partimos da sociologia, nós tomamos muito cuidado com esse tipo de articulação do crime, crime organizado, facção. Esses termos são todos muito problemáticos. Eu trabalho junto ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública,  e quando olhamos para o problema criminal, nós tentamos buscar alguns indícios que possamos utilizar como parâmetros para dizer se está mais ou menos violento”, destaca Rodrigo.


Audio 1 Rodrigo (1)

Sobre a relação da precarização do trabalho, imigração e violência, o sociólogo explica que é um fenômeno que acontece em todo Brasil, mas apenas se torna assunto em contextos específicos.


Audio 2 Rodrigo



 
 
 

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