Boa Vista deve registrar chuvas acima da referência histórica
- Joao Gabriel Grana
- 16 de jul.
- 5 min de leitura
O período chuvoso é de abril a setembro, mas, maio, junho e julho são os meses que mais chovem na capital
Texto: Edilson Rodrigues e Maciel Luiz

Boa Vista deve registrar volumes de chuva acima da referência histórica de precipitação para este mês que é de 325 milímetros, mantendo o alerta amarelo para a capital roraimense. É o que prevê o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
O período de chuva em Roraima começa em abril e termina em setembro, mas, os meses mais chuvosos são maio, junho e julho. Em junho deste ano, por exemplo, dados registrados pela estação automática do Inmet, localizada em Boa Vista, mostraram que choveu 316,2 milímetros, quase atingindo a referência histórica de precipitação que é de 317 milímetros.

O meteorologista Ramon Alves, da Femarh (Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), informa que, conforme os dados para julho, o mês será de muita chuva para Boa Vista. “Ou seja, o acumulado de chuvas será um pouco acima da normal climatológica, que é de 325 milímetros”, comenta.
LA NIÑA – Ramon Alves explica que o aumento de chuvas ocorre em decorrência do fenômeno La Niña, que faz com que as águas do Oceano Pacífico resfriem, trazendo mais umidade para a região. “Então, devido a esse resfriamento há um acumulado de maior umidade, e os ventos ficam mais intensos e se direcionam para o estado, tendo como consequência mais chuvas. Já o El Ninho inibe as chuvas aqui em nossa região”, disse.

Roraima é único estado que não possui rede de estação meteorológica

Entre os 15 municípios do Estado, a capital Boa Vista é o único que possui uma rede de estação meteorológica automática, que pertence ao Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
O meteorologista Ramon Alves esclarece que, em razão de Roraima não possuir uma rede própria de estações meteorológicas, fica dependente de informações externas para monitorar as condições do tempo, como ventos, precipitação, temperatura e umidade.
“Como não há essa rede de estações, não temos registros de todo o estado e, consequentemente, não temos informações precisas para passarmos para a população, para a imprensa. Se tivéssemos, saberíamos a previsão do tempo, alertas de desastres naturais como chuvas fortes, enchentes, secas, planejamento agrícola, gestão de recursos hídricos e diversas outras atividades que dependem do clima”, ressalta o meteorologista.
Sobre o quantitativo de estações necessárias no estado, Alves disse que o ideal é que cada município tivesse três ou quatro estações em cada cidade do interior, para fazer o monitoramento climático. “Teríamos uma outra realidade, com informações interessantes como a umidade do solo. Outro dado seria com relação a direção e velocidade do vento. Em época de queimadas de áreas para a agricultura, saberíamos como fazer esse procedimento de tocar fogo de maneira controlada”, esclarece.
PREFEITURA - Enquanto alagamentos pontuais já expõem a fragilidade da drenagem urbana na capital, a reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Comunicação (Semuc) da Prefeitura de Boa Vista, para saber qual trabalho está sendo realizado para minimizar os impactos, como alagamentos, junto à população, mas até o fechamento da reportagem não obtivemos retorno.
GOVERNO – A reportagem também fez contato com o Governo do Estado, por meio da Secom (Secretaria Estadual de Comunicação), com a finalidade de obter a informações sobre o porquê de ainda não ter implantado uma rede de estações meteorológicas automáticas em Roraima. A secretaria remarcou uma nova entrevista com o meteorologista da Ramon Alves, sendo que o mesmo foi quem nos informou que não há interesse da classe política para implantação de uma rede.
Os impactos e desafios para o setor agrícola no período seco em RR

enfrentam mais do que apenas a escassez de chuvas. A estiagem traz uma série de prejuízos para a agropecuária e a agricultura familiar, como explica o técnico agropecuário Hídeglan Ruan Pereira, do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS).
O profissional acompanha de perto os impactos no campo e alerta para a necessidade urgente de prevenção e mudança de comportamento. Segundo o técnico agropecuário, as queimadas seguem sendo uma das principais ameaças no período seco.
“Além da perda de vegetação e fauna, o fogo impede o acesso dos animais à água e à alimentação adequada. A pastagem seca compromete o ganho de peso e o desenvolvimento dos rebanhos. A agricultura também sofre com a estiagem prolongada”, afirma Pereira.
De grandes produtores a pequenos agricultores familiares enfrentam dificuldades na irrigação e no cultivo. “A falta de água afeta diretamente o desenvolvimento das plantas e reduz drasticamente a produtividade”, alerta o técnico.
Para Pereira, lidar com a seca vai além de medidas técnicas, pois envolve uma mudança de postura em relação ao meio ambiente. “Precisamos parar de destruir e de queimar a floresta e começar a cuidar mais da natureza. Plantar mais árvores, preservar os recursos naturais e respeitar o ciclo da vida no solo. Isso inclui os micro-organismos, os insetos, tudo que mantém o solo vivo e produtivo”, pontua.
Ele destaca ainda a importância do manejo adequado da terra e da conservação da umidade do solo. “Um solo bem preparado e conservado oferece melhores condições para o cultivo e também garante alimento para os rebanhos durante os meses mais secos”, garante o técnico agropecuário.
Outro ponto abordado por Pereira, é o impacto das mudanças climáticas que tem tornado os períodos secos mais intensos e prolongados. “O clima está mudando a cada ano. As temperaturas aumentam e precisamos estar preparados para isso. Sem planejamento, os prejuízos vão continuar se repetindo na agricultura e na pecuária”, disse.
Além das queimadas, o técnico chama atenção para o impacto de outras atividades predatórias, como o garimpo ilegal que agrava a degradação do solo e dos recursos hídricos. “Os rios são fontes vitais para os animais e para a produção. Sem água, não há vida. Precisamos conservar o que ainda temos.”
A preparação para o período seco, segundo o técnico, envolve ações práticas e contínuas. Entre elas: armazenamento de água, recuperação de áreas degradadas, plantio de forragem resistente à seca, reflorestamento, e conscientização ambiental.
“Cuidar do ambiente é uma prática diária. Preservar a natureza não é só uma escolha, é uma necessidade para garantir a produção rural e a sobrevivência das futuras gerações”, conclui Hídeglan Pereira.




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