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Bem-estar animal: os desafios de garantir uma vida saudável aos pets

Cuidado com animais domésticos exige responsabilidade em áreas como saúde e comportamento.


Por Lucas Aires e Wesley Vieira


Pets: sinônimo de afeto e companhia. (Fotos: Mell Maximiana)
Pets: sinônimo de afeto e companhia. (Fotos: Mell Maximiana)

Para muitos brasileiros, ter um animal de estimação é sinônimo de carinho, afeto e companhia que se fortalecem com o tempo, e essa convivência é uma realidade cada vez mais presente nos lares. 


Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) e do IBGE, há, em média, 1,8 animal por residência no país. Já o levantamento  mais recente realizado pela Abinpet em parceria com o Instituto Pet Brasil mostra que o Brasil abriga 160,9 milhões de pets — número que cresceu 3,33% em dois anos, sendo mais de 90 milhões entre cães e gatos.


Mas, além de todo o amor e atenção, esse cuidado exige responsabilidade, e ainda existem desafios relacionados à saúde, comportamento e alimentação dos animais. Muitos desses problemas têm causas associadas à idade, à raça ou a predisposições genéticas, mas também podem ser gerados por outros fatores, como ambientes inadequados, rotinas estressantes ou alimentação incorreta.


Tutora de quatro cães e sete gatos, Mell Maximiana já enfrentou de tudo um pouco no convívio com os animais. De fraturas a problemas cardíacos, passando por condições respiratórias e neurológicas, as idas ao veterinário se tornaram parte de sua rotina.


Tutora Mell Maximianna relata problemas enfrentados com seus pets. (Vídeo: Wesley Vieira)

Mell já precisou mudar alguns costumes para garantir a segurança e o bem-estar dos pets em casa. Ela destaca que esses cuidados fazem parte da rotina diária da família, que está sempre atenta para evitar acidentes e desconfortos aos animais.


“Por exemplo, a gente tinha o costume de deixar a porta sempre aberta. Agora, temos que fechar, pois senão os gatos entram. Deixávamos a comida em cima do fogão, só com a tampa, mas os gatos aprenderam a abrir. Então, agora a gente sempre guarda tudo na geladeira. E sempre descemos eles de locais altos, para não correr o risco de quebrar nenhuma pata.”


Esses cuidados práticos refletem a atenção necessária para lidar com as particularidades e necessidades dos pets, mas nem sempre sinais importantes de desconforto ou mudanças nos hábitos recebem a mesma atenção dos tutores.


Questões comportamentais, por exemplo, são frequentemente mal interpretadas pelos donos. Situações como agitação, agressividade, isolamento ou perda de apetite podem passar despercebidas e dificultar diagnósticos precoces.


A veterinária Caroline Sena destaca que o maior erro dos tutores é medicar o animal sem orientação profissional adequada. “Além de muitas medicações serem tóxicas para cães e gatos, a dose errada também pode trazer danos à saúde do pet”, afirma.


Muitos tutores acabam recorrendo a pesquisas na internet para tentar diagnosticar ou tratar seus animais, mas essa prática pode ser perigosa. Informações incorretas ou genéricas podem atrasar o atendimento adequado e até mascarar sintomas importantes, comprometendo a saúde do pet.


“Outro erro que ocorre é o de usar o Google para ‘consultar’ o pet, visto que há muitas informações equivocadas ou que não se aplicam ao caso do pet. Essas tentativas levam o tutor a esperar demais para buscar atendimento, ou camuflar um sinal clínico comprometendo o tratamento”, salienta Caroline.


Veterinária Caroline Sena. (Foto: Arquivo pessoal/Caroline Sena)
Veterinária Caroline Sena. (Foto: Arquivo pessoal/Caroline Sena)

Doenças como problemas renais, urinários, cardíacos e hormonais são frequentes e, muitas vezes, silenciosas. Por isso, check-ups anuais são recomendados, especialmente em pets acima dos 5 anos.


Caroline enfatiza que, mesmo sem sintomas evidentes, o acompanhamento pode fazer toda a diferença.


“Minha própria cadela, por exemplo, jovem e sem nenhuma alteração, comia e brincava normalmente. Mas num exame de rotina verifiquei uma leve anemia e baixa das plaquetas, e investigando mais diagnostiquei uma hemoparasitose que pôde ser tratada antecipadamente, colaborando para um desfecho positivo”.


Laurinha, cadela de 10 anos. (Foto: Mell Maximiana)
Laurinha, cadela de 10 anos. (Foto: Mell Maximiana)

Ração tradicional x alimentação natural: qual a melhor alternativa?


Com a alimentação não é diferente. As discussões entre ração industrializada e alimentação natural ganharam força nos últimos anos. Mas a escolha ideal depende das condições específicas de cada animal, além do acompanhamento técnico constante.


Na casa da Mell, a Laurinha, uma cadelinha de 10 anos com problema no coração, passou por diversas mudanças alimentares até chegar à dieta ideal.


Mell fala sobre a alimentação dos pets. (Vídeo: Wesley Vieira)

Caroline defende a alimentação natural, desde que haja acompanhamento de um profissional especializado. Ela ressalta ainda que pacientes com quadros de alergia alimentar, doenças hepáticas, renais ou intestinais e ainda pacientes em tratamento para controle de peso podem se beneficiar muito desse tipo de alimentação.


“Ainda que haja excelentes marcas de rações comerciais para manutenção e tratamento, a alimentação natural é individualizada e pode atender melhor às necessidades específicas de cada paciente. A única contraindicação é realizá-la sem acompanhamento de um nutrólogo veterinário. Oferecer uma alimentação com escassez ou excessos de nutrientes pode causar várias deficiências nutricionais e afetar a saúde do pet.”


Zootecnista Anandra Alves. (Foto: Arquivo pessoal/Anandra Alves)
Zootecnista Anandra Alves. (Foto: Arquivo pessoal/Anandra Alves)

Na avaliação da zootecnista Anandra Alves, a ração seca continua sendo uma opção segura, desde que seja de boa qualidade.


“É importante a escolha de produtos com baixo índice glicêmico, sem conservantes artificiais e com embalagem que preserve os nutrientes. Esses fatores contribuem para melhor digestibilidade, controle metabólico e prevenção de doenças”, reitera.


A seleção da dieta deve considerar o porte, idade e condição fisiológica do animal, garantindo um suporte nutricional adequado e seguro. Anandra reforça que uma dieta equilibrada é essencial para garantir o bem-estar, a disposição e a qualidade de vida dos pets.


“Animais com nutrição inadequada podem apresentar sinais como apatia, cansaço e falta de interesse em interagir com os tutores. A deficiência de ácidos graxos, como o ômega-3 e o ômega-6, influencia no humor e na energia. Por isso, o peso também deve ser monitorado mensalmente, mesmo em casa”, frisa.


No caso de pets idosos, são recomendadas rações específicas com nutrientes como proteínas ajustadas, antioxidantes e glucosamina, que ajudam a manter as funções neurológicas e a prevenir doenças articulares.


Humanização, traumas e liderança: o que os pets querem dizer?


Adestrador John Gauthier. (Foto: Arquivo pessoal/John Gauthier)
Adestrador John Gauthier. (Foto: Arquivo pessoal/John Gauthier)

Sobre o comportamento dos pets, o adestrador John Gauthier conta que o caso mais comum que atende é a “Síndrome do Abandono Destrutiva” e explica sobre os problemas da “humanização” dos animais e como resolver essa questão.


“Pets humanizados pelos tutores acabam apresentando comportamento de humanos. O dono dá tanta atenção ao pet quando está em casa, que quando ele (pet) se vê sozinho, entra em pânico por achar que sua vida depende do tutor. Aí deixa de comer e começa a destruir as coisas na casa, urinar onde não deve e tremer. Em alguns casos até agressividade sem motivo aparente. A solução é dar mais independência aos pets, gerando experiências que eles mesmo tenham que usar seus instintos para sair delas. Os donos têm que aprender a interpretar os gatilhos e não premiar eles com carinhos e afagos”, explica o adestrador. 


Sobre a relação entre teimosia e problemas psicológicos, John explica que a característica é o início de tudo e reafirma a importância do adestramento na saúde e bem-estar dos animais.


“O pet, por natureza, nos testa para ver até onde pode ir. Tutores sem liderança permitem que o pet domine a relação, algo cada vez mais comum na nossa sociedade. É assim que surgem os gatilhos que evoluem para problemas comportamentais e síndromes. Todo pet deveria aprender pelo menos o básico de obediência. Além de melhorar sua saúde mental, o adestramento facilita o manejo pelo tutor, tornando passeios mais tranquilos e elevando a qualidade de vida do animal em todos os aspectos”, destaca o profissional.


Para animais que sofreram maus-tratos, o adestrador explica que o processo do tratamento exige cuidado especial. "Primeiro, fazemos uma avaliação psicológica para identificar os gatilhos. Trabalhamos para que o pet entenda que pode superar o trauma ou, em casos extremos, criamos estratégias para minimizar o desconforto. Depois, buscamos um lar que atenda às necessidades específicas dele”, conta John.





 
 
 

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